O título destas linhas poderá muito bem ser considerado de duvidosa oportunidade, pois quem estiver a contar que fale sobre uma figura decadente da nossa política nacional, desengane-se, isso não vai acontecer. Indo directo ao que interessa: refiro-me à formação dos preços. Não quero maçar com os conceitos habituais que pesam na sua formação; vou apenas contar uma estória que se passou comigo. Há dias, mal o sol se abriu, fui, entusiasmado, ver como estava o mar entre Vila do Conde e Póvoa de Varzim. Boa temperatura, sol bonito e uma brisa que me pedia para ir fazer uma corrida. Não estava previsto, o equipamento não era o ideal mas não quis perder aquele aceno da natureza. No fim, já completamente encharcado, entrei numa esplanada sazonal que há junto à praia. Pedi por uma garrafa de 0,5L de água natural. O gerente ainda me perguntou se a queria fresca. Duplamente natural, foi o que lhe disse. Mal me entregou a garrafa, abri-a e, quase duma golada, levei-a até ao fim. Deixei €1.00 em cima do balcão e ia-me a virar para ir embora quando o oiço dizer que o preço era €1.40. Perguntei-lhe, em tom de brincadeira, qual o valor que ele tinha acrescentado ao produto para estar assim tão caro. Olhou para mim sem entender. Reformulei, inquiri o que é que ele tinha acrescentado ao produto, desde a sua aquisição até aquele momento, para o preço ser assim. Percebeu. Riu-se. E disse-me que realmente estavam um bocado caras em relação ao ano passado; ainda pensou vendê-las a €1.20, mas depois achou melhor pô-las àquele preço. Então porquê? Recebi a melhor lição sobre a formação de preços que até hoje eu ouvira. Disse-me então que resolveu que o preço final seria €1.40 porque, palavras dele, um gajo anda por aí e é isso que paga. O meu genuíno sorriso foi imediatamente substituído por um sorriso amarelo e pedi-lhe para repetir o que dissera pois pareceu-me não ter percebido muito bem. Ele não teve qualquer problema: um gajo anda por aí e é isso que paga, e então eu… E sem o saber, (ou talvez não!) aquele homem, com a sua simplicidade, disse exactamente o único princípio que interessa quando se tem um negócio: o preço vai até onde os clientes podem, ou querem, pagar. É andar por aí para confirmar.
Siga Francisco Pereira e receba um alerta assim que um novo artigo é publicado.
Andar por aí
Recebi a melhor lição sobre a formação de preços que até hoje ouvira: um gajo anda por aí e é isso que paga.