1 Na sua campa em Santa Comba Dão, Salazar deve estar a rir-se. Acreditava que o destino de Portugal era muito mais África do que a Europa. A verdade é que o nosso país está a abanar por causa de conflitos políticos em Angola. Seria impossível uma crise interna em qualquer país europeu ter o mesmo impacto em Portugal. Os portugueses podem ter partido de Angola, mas Angola não deixou Portugal.
As leituras do Luanda Leaks provocam-me ainda algumas recordações. Um dia em Luanda, discutia com um diplomata português as afinidades entre Angola e Portugal, e ele contou: “já ouvi diplomatas de outros países africanos afirmarem que Luanda não parece uma cidade africana.” O centro de Luanda, a cidade alta e até a ilha poderiam ser cidades portuguesas. O Benfica, o Porto e o Sporting são os clubes de futebol que os angolanos apoiam. Quando podem, ou precisam, os angolanos emigram para Portugal. Os ricos vão para Cascais, e os pobres para os bairros periféricos de Lisboa. Até nisso, são como os portugueses.
Angola passou pela aventura soviética, uma verdadeira bizarria. Terminada a experiência “comunista”, Portugal tornou-se o país mais próximo para os Angolanos. Por seu lado, Portugal virou-se para a Europa. Bruxelas transformou-se na segunda capital portuguesa. Os fundos europeus vieram com abundância para o nosso país. E começámos mesmo a sentir-nos europeus. Mas veio a pior crise económica, desde que aderimos à Comunidade Europeia, em 2009, e com ela regressou a história.
Este artigo é exclusivo para os nossos assinantes: assine agora e beneficie de leitura ilimitada e outras vantagens. Caso já seja assinante inicie aqui a sua sessão. Se pensa que esta mensagem está em erro, contacte o nosso apoio a cliente.