“A economia digital é um dos requisitos para melhorar a prosperidade de um país” e, em minha opinião, ainda com mais peso em países com mercados internos pequenos e periféricos, como Portugal. Esta é uma opinião partilhada pela maioria dos economistas, que reconhecem a importância das tecnologias digitais para os processos de produção e distribuição, não só nas economias desenvolvidas como nas que se encontram menos avançadas. Contribui para tornar a economia mais competitiva e, ao permitir que as empresas vendam os seus produtos internamente e noutros mercados, mantém a força de trabalho, gera receitas e tem impacto no aumento da riqueza em termos globais. Mas a competitividade vai depender da rapidez com que as tecnologias digitais vão ser utilizadas nos processos e esta transformação digital depende, por sua vez, dos recursos que um país tem para essa transformação.

Em Portugal, o impacto do digital na economia tem vindo a crescer nos últimos anos, mas ainda temos muito potencial de crescimento, pois o e-commerce B2C continua com valores baixos e a representar apenas 3% do PIB (representava 5,5 mil milhões – estudo Acepi, edição 2019), muito atrás dos indicadores europeus, onde ocupamos a 19ª posição (em 28 países) do Índice Europeu da Economia e da Sociedade Digital, e o peso do online é metade do valor médio europeu (painéis GfK). Com o confinamento, o e-commerce registou nos últimos meses um crescimento muito rápido, posicionando-se como motor de crescimento para o desenvolvimento económico do país. Ganhou uma importância exponencial na vida das pessoas e, em alguns casos, foi a primeira experiência de compra de bens online e impulsionou as empresas a mudanças repentinas para oferecerem novos produtos e serviços em plataformas online, colocando-as perante novos desafios: repensarem o seu modelo de negócio e adaptarem-se rapidamente à procura motivada por novos comportamentos dos consumidores.

Os dados revelam que nas últimas semanas, 29% dos portugueses compraram mais online (Marktest, maio 2020), com aumentos significativos em muitos setores, nomeadamente em eletrónica de consumo, que mais do que triplicou o peso das vendas online, atingindo 36% em meados de Abril, segundo a GfK. Muitas empresas viram as suas vendas online aumentarem significativamente no último trimestre, superando as vendas do Black Friday e Natal de 2019, dois momentos altos do período anual de vendas.

A recente alteração dos comportamentos de consumo veio posicionar o e-commerce como o catalisador da transformação económica e digital do país. Este é o momento ideal para acelerar a transformação digital e apostar na inovação, em novos modelos de negócio e na internacionalização. Há uma enorme oportunidade que surgiu do contexto social imposto pela pandemia e que representa o caminho para a exportação para novos mercados e um passo à frente para a globalização das empresas. Portugal poderá posicionar-se como um importante hub de digital delivery e alicerçar a sua competitividade no desenvolvimento do e-commerce, tornando este segmento eficiente e a forte aposta das empresas portuguesas.

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Este é o momento para o tecido empresarial investir mais em soluções tecnológicas, que melhorem a experiência de utilização dos consumidores. Conhecer melhor cada cliente, definir uma estratégia de canais complementares e assegurar uma eficaz gestão dos stocks, política de preços e entrega de produtos. Não se trata apenas de investimento que exige recursos (capital), mas também alteração de mentalidade para abraçar uma nova cultura e talento digital.

Estamos no tipping point para uma oportunidade ou uma ameaça, pois os clientes habituais, ao já terem experimentado o e-commerce, podem facilmente comparar a oferta local com outras internacionais, pois as barreiras físicas deixaram de existir.

Assim, para a venda de produtos indiferenciados (distribuidores multimarcas), a aposta será ganha pelas empresas que tenham o melhor mix entre preço, serviço (user experience e sistemas de fidelização), prazos e qualidade de entrega.

Para produtores com marcas próprias, o mercado local tende a perder importância, pois abre-se um novo mundo com audiências globais para o seu posicionamento único, com novas oportunidades de crescimento, onde até empresas de nicho de mercado, à escala mundial, passam a ter mercados sustentáveis.

Desta forma, deixa de ser opcional estar ou não no digital, será uma questão de sobrevivência das empresas a longo prazo, pois os mercados estão finalmente a consubstanciar-se num verdadeiro mercado único e global. Diria que mais do que promissor para as empresas, o futuro do e-commerce em Portugal é a esperança para o crescimento do país, que viu o seu mercado reduzir drasticamente com o confinamento e só com o alargamento a novos mercados poderá inverter esta tendência. Resta às empresas saberem-no utilizar para capitalizar no seu negócio.