1 A MENSAGEM
Ao longo dos encontros e da palavra proclamada pelo carismático Papa Francisco — sempre centrada em Cristo e em Maria — surgiu uma mensagem clara e baseada nos valores da fraternidade, da não exclusão e do incitamento aos jovens para se empenharem em contribuir para um mundo alicerçado em valores de sustentabilidade, paz e solidariedade. Esta mensagem é relacional dando especial atenção aos mais pobres e àqueles que vivem na margem da sociedade devendo a Igreja estar empenhada em acolher todos, sem discriminar culturas, estilos ou opções de vida, exprimindo-se assim em linguagem moderna o preceito de Paulo “não há judeu nem grego, escravo ou livre, homem ou mulher” e a mensagem de Lucas: “mandar em liberdade os oprimidos”. Ora esta mensagem ultrapassa as fronteiras do Catolicismo tal como aliás foi testemunhado pelo importante depoimento do Xeque David Munir, imã da Mesquita Central de Lisboa, e pelos representantes de outras confissões, designadamente budistas e evangélicos. Este programa de vida surge em claro contraste com todas as ideologias que se vão desenvolvendo desde Miami a Moscovo dividindo o mundo em classe separadas por barreiras ou trincheiras, anatemizando os grupos aos quais não pertencemos e promovendo a luta de uns contra os outros.
2 A MOBILIZAÇÃO
Este grande evento demostrou de forma inequívoca a incrível capacidade da Igreja Católica, através do seu network mundial, de mobilizar centenas de milhares ou até milhões de jovens provenientes dos mais inesperados países desde o Irão e as Ilhas Faroe à República Popular da China e ao Mianmar onde se multiplicam as perseguições aos católicos.
Na verdade, este encontro mundial comprova que se as igrejas estiverem vazias de jovens, a causa não reside no desinteresse dos jovens mas sim na falha da Igreja de acolher sem exclusões e de ir ao encontro da emoção, da linguagem e da cultura de cada povo e de cada geração.
3 A ORGANIZAÇÃO
Ao longo dos últimos meses, foram surgindo as habituais notícias apocalípticas de que nem tudo estaria pronto e que a organização seria deficiente em muitas dimensões, desde o acolhimento às construções necessárias. A realidade foi oposta, desde o enquadramento dos grupos à cenografia e à programação dos eventos pelo que não surpreendem os inúmeros testemunhos que comprovam a excelente qualidade de toda a organização e de todo o empreendimento colocado no terreno em pouco tempo. A dimensão musical e a organização do espectáculo associado à Via Sacra merecem elogio acrescido graças ao seu impacto e qualidade. Como é evidente, as Câmaras Municipais da Região de Lisboa estão de parabéns mas o sucesso dependeu muito da CML e do seu presidente, Carlos Moedas, que saiu com prestígio reforçado.
4 A COMUNICAÇÃO SOCIAL
O impacto deste grande evento dependeu muito do trabalho dos meios da comunicação social os quais mobilizaram todos os seus recursos para permitir a todos aqueles que não estavam presentes, conhecer e viver os seus momentos mais significativos confirmando-se assim a sua natureza de quarto poder essencial a qualquer sociedade democrática. Ou seja, irrealista pensar que seria possível atingir estes resultados sem a aliança e o apoio dos principais meios de comunicação os quais merecem elogio fundamentado.
Mas a JMJ também permitiu a revelação de outras orientações editoriais de meios como o jornal Público o qual, após o dia em que o parque Eduardo VII se encheu de centenas de milhares de jovens, colocou como principal título da primeira página do dia seguinte a contratação de médicos aposentados e conseguiu colocar foto imaginativa tirada de costas de modo a não se vislumbrar a multidão do parque Eduardo VII.
5 A OPOSIÇÃO
Como é normal em relação a uma inciativa da Igreja Católica, surgiram sinais de oposição os quais são compreensíveis na linha do pensamento antirreligioso bem radicado em Portugal desde a 1ª República na qual se destacou a ação política de Afonso Costa e o seu pensamento ilustrado pala tese em Direito na qual incluiu violentas críticas à encíclica Rerum Novarum. Todavia, não se manifestaram como tal pois preferiram concretizarem-se sob dois argumentos complementares :
- a laicidade do Estado pelo que é pecaminoso o Estado co-financiar esta iniciativa;
- gastar recursos públicos nesta iniciativa em vez de financiar mais habitação social.
Pena é que esta corrente de pensamento, legítima e com raízes históricas, tenha assumido dois argumentos sem fundamento. Com efeito, a laicidade do Estado exclui a possibilidade de o Estado professar qualquer religião, mas não o dever de apoiar e potenciar todas as inciativas das Igrejas sempre que tenham utilidade pública, o que, neste caso até tem dimensão mundial. Quanto ao segundo argumento, baseia-se na hipótese de, no caso de não ter havido esta despesa, tal verba ser aplicada na habitação. Ora, a realidade comprova o oposto: ao longo dos anos anteriores, não houve despesa com a JMJ, e nunca houve tão pouco investimento em habitação social. Aliás, a política da habitação baseia-se principalmente nos municípios muitos dos quais têm sido generosos na cedência de terrenos para clubes de futebol e em vultuosas verbas para espectáculos públicos de verão. Não creio que os mesmos críticos os critiquem por não preferirem aplicar tais recursos em habitação social.