As notícias chegam-nos em catadupa. Os nossos entes queridos que já não podiam viver connosco porque a vida frenética que levamos não nos permite cuidar deles e que, por amor, por compaixão e por comodidade, os colocámos nas casas de repouso, estão a morrer às dezenas. Os remorsos invadem-nos o espírito, sem que possamos encontrar uma solução e não vale a pena estar a acusar as instituições ou os funcionários que fazem tudo o que podem para os cuidar.
Dói-nos muito vê-los partir sem lhe podermos dizer uma palavra de carinho, dar-lhe um beijo de consolação, acariciar-lhes a face, nem sequer acenar-lhes de longe para lhe darmos o último adeus.
Foram eles que nos geraram, que nos deram a mão e nos ajudaram a crescer e fizeram de nós homens e mulheres. Partilhámos as suas alegrias e tristezas. Deram-nos tudo o que actualmente somos. Conheceram as privações, a miséria, o trabalho duro no campo, em fábricas, em estaleiros diversos, em Portugal ou noutros países, para que nós pudéssemos ter uma vida melhor. Éramos nós a menina dos seus olhos, a razão do seu labor, da sua existência. Renunciaram a tanta coisa para que nada nos pudesse faltar.
Agora faz-nos pena vê-los no fim da vida. Com as exigências desta sociedade financeira e industrial confiámo-los às casas de repouso com o fim de ali poderem passar, o melhor possível, os últimos anos de vida.
Estas casas, antes, não existiam. As gerações misturavam-se e entreajudavam-se na casa dos pais que era a mesma dos avôs e bisavôs onde estes morreriam, rodeados do carinho e do amor dos seus. A velhice fazia parte do crescimento natural da vida que um dia iria ter um fim, que embora doloroso, só poderia ser encarado com a maior naturalidade.
As casas de repouso são um produto da nossa tão adulada civilização. Desde há pouco tempo, e com este flagelo pandémico, demo-nos conta que estas casas de repouso se tornaram casas de repouso eterno, após sermos confrontados com os frágeis meios que são prodigados a estas unidades de cuidados de todo o género. Em muitos lares, a rentabilidade destas instituições passa depois do tratamento, do cuidado e da atenção que deve ser prestado aos nossos entes queridos que, com toda a confiança, os pusemos nas suas mãos.
A morte dos nossos idosos nas casas de repouso tornou-se quase uma fatalidade e todos os dias choramos lágrimas de revolta. Desde o princípio da pandemia dezenas de homens e mulheres apagam-se como a chama de uma vela ao sopro de uma corrente de ar. Alguns, privados da visita de familiares e amigos, morrem na solidão e preferem fechar os olhos para sempre. Para quê, viver nesta terra sem amor, sem ternura, pensarão eles? No “outro lado” será certamente melhor que este insuportável confinamento em quatro paredes, tendo apenas por companhia o tiquetaque de um relógio mural.
Era de prever que o vírus iria ali atacar onde os meios faltam, pois todo o cuidado se concentrou nas unidades hospitalares. Os nossos velhinhos não são prioridade. Já viveram demais, poderá estar subentendido na incúria das políticas da saúde. Os testes chegaram tarde, demoraram tempo demasiado a serem generalizados. Repetem-se as promessas todos os dias. Faz-se a gestão, boa ou má, da doença viral nos hospitais. No fim se apreciará. Agora não há tempo a perder. Nas casas de repouso a hecatombe continua. É urgente que estes lares sejam considerados unidades hospitalares e que sejam reforçados com pessoal médico para salvar os nossos queridos idosos porque todos nós, mais cedo ou mais tarde, estaremos na fila, mas não desejamos entrar para um lar onde rapidamente nos esperará o repouso eterno.