Numa altura em que se começam a lançar nomes para as eleições europeias do próximo ano, vale a pena reflectir sobre as possíveis escolhas à direita, espaço no qual se colocam várias dificuldades e algumas perplexidades.
Começando pelo caso que será em princípio menos problemático, a IL, o candidato mais natural será João Cotrim de Figueiredo. Desde que deixou a liderança que Cotrim ficou na pole position para este efeito e o facto de ser provavelmente a figura com maior reconhecimento público do partido faz com que seja uma escolha apetecível. É certo que Cotrim tem um perfil mais executivo e que a IL tem habitualmente apresentado candidatos novos e desconhecidos mas o actual ciclo político do partido faz com que desta vez possa ser diferente. Na lógica de apresentar uma cara nova, a mais forte alternativa a Cotrim deverá ser Ana Martins, Vice-Presidente da IL e coordenadora do recentemente criado ILab, Laboratório de Ação Política da IL. Ana Martins, que integrou em 2019 (no quarto lugar) a lista da IL nas eleições europeias e foi cabeça-de-lista pelos Açores nas legislativas. A uma sólida formação académica (na Universidade Católica Portuguesa e em Oxford), Ana Martins junta um forte perfil internacional, sendo de destacar a sua colaboração próxima com Timothy Garton Ash. Mesmo não encabeçando a lista, Ana Martins será uma forte candidata à segunda ou terceira posição. Ainda entre as figuras mais próximas do líder Rui Rocha, é também de considerar António Costa Amaral, vogal da Comissão Executiva com o pelouro da Política Internacional e figura importante no funcionamento interno do partido.
Outras alternativas plausíveis no campo da IL seriam a deputada Carla Castro ou Catarina Maia (que ocupou o segundo lugar na lista da IL nas eleições europeias de 2019) mas episódios recentes de conflitualidade interna no partido deverão ter inviabilizado estas possibilidades. Por fim, um possível wildcard para a IL: Michael Seufert, o ex-deputado do CDS e ex-líder da JP que foi mandatário de Tiago Mayan nas últimas eleições presidenciais. Além de apelar a eleitorado historicamente do CDS, Seufert evidenciaria a capacidade da IL para atrair quadros altamente qualificados e com substancial experiência política e parlamentar.
A propósito do CDS, o grande dilema será concorrer isoladamente ou (tentar) ir a eleições juntamente com o PSD. No cenário de ir a votos sozinho, a única hipótese em que parece remotamente plausível o CDS conseguir eleger um eurodeputado será apresentar Cecília Meireles. Seria, no entanto, extraordinariamente difícil ainda assim eleger em concorrência com PSD, IL e CH pelo que o cenário ideal para o CDS seria uma coligação – na qual poderia por exemplo ter o seu candidato no sétimo lugar da lista conjunta com o PSD. É certo que o estudo recente do CIEP-UCP com o CESOP-UCP (disclaimer: dirigido por mim) sugere que as coligações são pouco interessantes para o PSD, mas considerando que nas europeias os votos no CDS serão – muito provavelmente – totalmente desperdiçados, a lógica de PSD e CDS concorrerem juntos ganha um impulso adicional.
Passando para o PSD, a situação é deveras complexa. Ainda que seja um eurodeputado competente e um político experiente, repetir uma vez mais Paulo Rangel como cabeça de lista dificilmente terá o efeito mobilizador de que o PSD desesperadamente necessita. Por sua vez, a hipótese Rui Moreira levanta várias dúvidas. Desde logo sobre a vontade e empenho do próprio em ser candidato e também por não ser de todo evidente que apresentar Rui Moreira como cabeça de lista tenha um efeito líquido positivo a nível nacional. As Vice-Presidentes do PSD Margarida Balseiro Lopes e Inês Palma Ramalho, assim como Inês Domingos, ex-deputada e actual consultora do Presidente da República, seriam apostas mais arrojadas mas com baixos níveis de reconhecimento por parte do eleitorado. Outra possibilidade seria o ex-deputado Miguel Morgado, figura muito próxima de Pedro Passos Coelho, com pensamento estruturado sobre política internacional e sobre a UE, experiente em debates e uma voz enérgica e combativa (ainda que gerando também alguns anticorpos por via dessa combatividade). Mas porventura a melhor aposta no actual momento do PSD seria Miguel Poiares Maduro. Com ampla experiência política, perfil claramente internacional e boa imagem mediática, é difícil imaginar um cabeça de lista melhor para o PSD nas actuais circunstâncias. Resta saber se estará disponível para ser persuadido para essa difícil missão por Luís Montenegro.
Finalmente importa considerar o CH, que terá nas próximas eleições europeias uma oportunidade de ouro para crescer se considerarmos que estas eleições costumam ser marcadas pelo voto de protesto e por elevada abstenção. Seja quem for o cabeça de lista (que desta vez não deverá ser o líder), é certo que a campanha do CH terá como protagonista André Ventura, o que faz com que a difícil tarefa de seleccionar um candidato por parte do CH não seja tão relevante como para outros partidos. Ainda assim, o cabeça de lista terá alguma relevância (em especial nos debates) pelo que a extrema dificuldade do CH para recrutar quadros políticos não deixa de ser um problema. Rita Matias seria uma opção interessante mas dificilmente o CH pode prescindir dela no Parlamento nacional. José Maria Matias, que tem tido um papel importante na dinamização das relações internacionais (e em especial europeias) do CH, poderia ser igualmente uma aposta interessante mas tem pouca experiência política e um perfil que poderá não ser ainda o mais adequado. Poderá assim restar ao CH aproveitar a disponibilidade de Tânger Corrêa, Vice-Presidente do partido e diplomata experiente, ainda que as suas posições relativamente à Rússia possam potencialmente causar dissabores significativos em campanha. Seria, porventura, um candidato a evitar mas não é evidente que o CH consiga encontrar uma boa alternativa.