Há 25 anos que cumpro este ritual: na manhã da véspera de Ano Novo, escrevo as minhas resoluções para o ano seguinte. Não o faria ano após ano se a experiência não me tivesse ensinado que resulta. Tal como resulta para muitas outras pessoas. Muitos dos empresários bem-sucedidos que entrevistei para a minha dissertação sobre a psicologia dos ultra-ricos, The Wealth Elite, também escrevem os seus objetivos.

A razão para o ritual ser tão eficaz não é muito importante. A experiência mostra que resulta para um grande número de pessoas bem-sucedidas. Arnold Schwarzenegger, que definiu e alcançou importantes metas em várias áreas da sua vida (desporto, cinema, política), afirma na sua autobiografia que adotou este ritual bastante cedo:

“Sempre escrevi os meus objetivos, tal como aprendera a fazer no clube de levantamento de pesos, em Graz. Não chegava dizer-me a mim próprio algo como «a minha resolução de Ano Novo é perder nove quilos, aprender a falar melhor inglês e ler um pouco mais». Não. Isso era apenas o começo. Era preciso tornar a minha resolução muito específica para que todas essas boas intenções não ficassem só a pairar no ar. Eu pegava num papel e escrevia que ia:

  • inscrever-me em mais cadeiras na universidade;
  • ganhar dinheiro suficiente para poupar 5.000 dólares;
  • fazer cinco horas de exercício por dia;
  • ganhar três quilos de massa muscular; e
  • encontrar um apartamento e mudar-me para lá.

Poderia parecer que estava a tornar-me refém destes objetivos tão específicos, mas era precisamente o contrário: considerava-os libertadores. Saber exatamente o que queria acabou por me tornar completamente livre para improvisar como chegar lá.”

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Schwarzenegger também enfatiza a importância de definir objetivos bastante ambiciosos:

“As pessoas falam sempre de quão poucos artistas estão no topo da pirâmide, mas sempre me convenci de que havia espaço para mais um. Sentia que, por o espaço ser tão limitado, as pessoas sentiam-se intimidadas e achavam mais confortável ficar na base da pirâmide. Na verdade, quanto mais pessoas pensam assim, maior se torna a base da pirâmide! Não vás para onde está muita gente. Vai para onde esteja vazio. Apesar de ser difícil chegar lá, é onde mereces estar e onde há menos concorrência.”

Vários estudos validaram cientificamente a teoria da definição de objetivos, provando que definir objetivos específicos e ambiciosos leva a melhores resultados do que objetivos fáceis, e que as pessoas que o fazem são mais bem-sucedidas do que as que não definem objetivos ou apenas os formulam vagamente.

«Sonha para além do que os outros consideram alcançável»

No meu livro Dare to Be Different and Grow Rich [“Ousa ser diferente e enriquece”], analisei as biografias de mais de 50 pessoas bem-sucedidas e descobri que muitas delas definiram objetivos muito ambiciosos desde bastante cedo nas suas vidas: Howard Schultz, filho de um trabalhador sem qualificações, nasceu em 1953, em Brooklyn, e cresceu num bairro pobre. Ele tornou a Starbucks, a sua empresa, numa marca de referência com mais de 27 000 filiais espalhadas por todo o mundo. No prefácio da sua autobiografia de 1997, Schulz aconselhou o seguinte aos seus leitores: «Sonha para além do que os outros consideram alcançável. Espera mais do que os outros consideram possível.» Larry Page, criador da Google, é um grande defensor daquilo a que ele chama «um desrespeito saudável pelo impossível»: «Deves tentar fazer aquilo que a maioria das pessoas não faria.» Sam Walton, fundador da Walmart, que a dada altura foi a maior empresa do mundo, explicou o segredo do seu sucesso dizendo: «Sempre mantive a fasquia bastante alta para mim mesmo. Estabeleci metas extremamente altas.» Outro empresário e bilionário lendário, Richard Branson, declarou modestamente: «A lição que aprendi ao longo desta jornada é que nenhum objetivo está fora do nosso alcance e que até mesmo o impossível pode tornar-se possível para aqueles com uma visão e que acreditam em si mesmos.»

Porque é que não há mais pessoas a definir objetivos ambiciosos?

Se definir objetivos ambiciosos resulta para tantas pessoas bem-sucedidas, porque é que não há mais pessoas a fazê-lo? Porque lhes falta confiança, porque têm medo de falhar. Experimente este exercício: imagine, por um momento, que garantidamente não podia falhar – será que não iria estabelecer objetivos muito mais ambiciosos para si mesmo/a?

Claro que ninguém pode dar esta garantia. Mas permita-me fazer as seguintes observações:

  1. Se não definir um objetivo ambicioso porque tem medo de não o conseguir cumprir, então já falhou, pois não terá hipótese de o alcançar.
  2. Se não falhar de vez em quando, então, aos meus olhos, é um/a falhado/a, porque os seus sucessos constantes apenas provam que os objetivos que define para si próprio/a nunca são ambiciosos o suficiente.

Costumam perguntar-me: Quão grande deve ser o objetivo que estabeleço para mim mesmo/a? E como devo exatamente formulá-lo? E quantos objetivos devo estabelecer?

O ditado «nada é impossível» que às vezes é dito pelos treinadores motivacionais não é, obviamente, verdade. Não se vai tornar presidente dos Estados Unidos no próximo ano, independentemente do número de vezes que o escreva e do quanto o deseje. E não vai chegar a Marte no ano a seguir, por muito que sonhe com isso.

A maioria das pessoas define objetivos demasiado pequenos

Mas não é esse o ponto. A maioria das pessoas não define objetivos demasiado grandes, mas sim demasiado pequenos – ou então não os define de todo. Um objetivo deve ser tão grande que seja difícil (mas não completamente impossível) de acreditar nele. Se tiver a certeza que consegue alcançar um objetivo de forma relativamente fácil, então isso quer dizer que ele é demasiado pequeno.

Acima de tudo, os seus objetivos devem ser quantificáveis, senão não será capaz de verificar se os está a cumprir ou não. E, mais importante ainda, o seu subconsciente nunca irá compreender objetivos vagos. Se pedir à Amazon que lhe envie «algo fantástico», não vai receber nada. Os seus objetivos têm de ser específicos.

Na última véspera de Ano Novo escrevi: «O meu próximo livro será traduzido para 20 línguas e irei assinar todos os contratos necessários em 2022». Esse foi um objetivo ambicioso, tendo em conta que o meu livro mais bem-sucedido até à data tinha sido traduzido para 13 línguas – e isso demorou dez anos a conseguir!

O ano passado também decidi escrever apenas um objetivo, apesar de normalmente definir cinco ou dez. Mas pensei que seria mais fácil alcançar um do que cinco. E assim foi. Acontece que o objetivo era demasiado pequeno, porque, no final, acabei por assinar 27 contratos para o meu livro Em Defesa do Capitalismo. Portanto, formule objetivos específicos – e, acima de tudo, não tenha medo de que sejam ambiciosos! Espero que alcance todos os seus grandes objetivos em 2023!

O livro Em Defesa do Capitalismo: um Antídoto para os Mitos Anticapitalistas foi publicado em 2022 pela Alêtheia Editores em parceria com o Instituto Mais Liberdade. Pode ser adquirido em capitalismo.maisliberdade.pt ou nas principais livrarias. Tradução do presente artigo: Ana Laura Amado.