O que é que as pessoas pensam a respeito do capitalismo e da economia de livre-mercado, e como é que as atitudes em Portugal comparam com as de outros 21 países? Foi esse o objeto de um inquérito realizado entre julho de 2021 e junho de 2022, num total de 22 países. Em Portugal, a Ipsos MORI inquiriu uma amostra representativa de 1000 pessoas. No total, foram 23 056 os inquiridos que participaram no conjunto dos 22 países.

Atitudes em relação à liberdade económica em Portugal

No primeiro conjunto de perguntas, a declaração que colheu maior apoio em Portugal foi “O Estado deve fixar os preços dos alugueres e alimentos, e fixar salários mínimos e máximos; caso contrário, o sistema será socialmente injusto” (40%), enquanto a que teve menor acolhimento foi “Penso que as empresas privadas devem decidir, por si mesmas, quais produtos fabricar e que preços cobrar pelos mesmos; o Estado não se deve envolver” (17%).

Uma análise das respostas às declarações favoráveis ao Estado e favoráveis ao mercado revela que as declarações a favor de um papel mais forte para o governo colhem 32% de aprovação, em comparação com 24% de aprovação das declarações pró-mercado favoráveis a um papel reduzido para o governo. Dividindo a média das declarações positivas pela média das negativas, obtém-se um coeficiente de 0,75. Doravante referirei este coeficiente frequentemente. Quando superior a 1,0, significa que prevalecem as atitudes favoráveis à liberdade económica; se inferior a 1,0, a prevalência cabe às opiniões contrárias ao mercado livre (Figura 1).

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Figura 1 — Portugal: Seis afirmações sobre um bom sistema económico

Pergunta: “Segue abaixo uma lista de várias coisas que as pessoas disseram que consideram ser um bom sistema económico. Qual destas afirmações também faria?”

Nota: Todos os dados estão em percentagem dos inquiridos. Fonte: Inquérito Ipsos MORI 21-087515-07

O que é que as pessoas em Portugal associam a “capitalismo”?  

A todos os inquiridos foram apresentadas 10 termos – cinco positivos e cinco negativos – sendo-lhes perguntado quais associavam à palavra “capitalismo”. Resultado: as pessoas em Portugal associam a palavra “capitalismo” a coisas negativas. A percentagem média para termos negativos, como “ganância”, “corrupção” ou “frieza” é de 74%. Por seu lado, referências positivas como “prosperidade”, “progresso”, “inovação” ou “liberdade” são selecionadas por uma média de 67% (Figura 2).

Figura 2 — Portugal: Associações a “capitalismo”

Pergunta: “Agora, pense na palavra capitalismo. Para cada uma das afirmações a seguir, selecione se é algo que associa ao capitalismo.”

Nota: Todos os dados estão em percentagem dos inquiridos. Fonte: Inquérito Ipsos MORI 21-087515-07

18 afirmações positivas e negativas sobre o “capitalismo”

Aos inquiridos foram apresentadas 18 declarações sobre o capitalismo, 10 delas negativas e 8 positivas. Claramente, a concordância com declarações negativas (com uma média de 33%) supera a concordância com declarações positivas (com uma média de 16%). A divisão da percentagem das declarações positivas pela das negativas dá-nos um coeficiente de 0,48 (todos os números inferiores a 1,0 indicam uma atitude anticapitalista).

Sem exceção, as nove afirmações mais frequentemente selecionadas foram todas negativas.

Por exemplo, 43% dos inquiridos portugueses dizem que “O capitalismo leva a desigualdade crescente”, a par de 43% que acreditam que “O capitalismo promove o egoísmo e a ganância”; 42% concordam que “O capitalismo é dominado pelos ricos, que definem a agenda política”; 38% afirmam que “O capitalismo leva a monopólios em que empresas individuais (por exemplo, Google ou Amazon) controlam todo o Mercado”; 33% são de opinião que “O capitalismo estimula as pessoas a comprar produtos de que não precisam”; e 30% pensam que “O capitalismo é responsável pela destruição ambiental e pelas mudanças climáticas.” As nossas conclusões são, portanto, bastante claras: em Portugal, a opinião pública é dominada pelo anticapitalismo (Figuras 3 e 4).

Figura 3 — Portugal: Afirmações sobre o capitalismo – 10 afirmações negativas

Pergunta: “Com qual das seguintes afirmações sobre o capitalismo concorda, caso haja alguma?”

Nota: Todos os dados estão em percentagem dos inquiridos. Fonte: Inquérito Ipsos MORI 21-087515-07

Figura 4 — Portugal: Afirmações sobre o capitalismo – 8 afirmações positivas 

Pergunta: “Com qual das seguintes afirmações sobre o capitalismo concorda, caso haja alguma?”

Nota: Todos os dados estão em percentagem dos inquiridos. Fonte: Inquérito Ipsos MORI 21-087515-07

Teorias da conspiração e atitudes a respeito do capitalismo

Os crentes em teorias da conspiração são pessoas que acreditam que um acontecimento ou uma situação – como sejam uma crise ou pandemia – resultam de um plano secreto gizado por gente poderosa.

No âmbito do nosso inquérito, a Ipsos MORI confrontou todos os inquiridos com estas duas afirmações:

  • “Na realidade, os políticos não decidem nada. São fantoches controlados por forças poderosas nos bastidores.”
  • “Muitas coisas na política só podem ser devidamente compreendidas se souber que há um plano maior por detrás, algo que a maioria das pessoas, no entanto, não conhece.”

Os indivíduos que concordaram com ambas as declarações foram identificados como tendo uma mentalidade dada a conspirações.

Verificou-se que em Portugal são significativamente mais os anticapitalistas convictos que concordam com as afirmações acima citadas do que os pró-capitalistas convictos. A divisão das percentagens de inquiridos que concordam com estas afirmações dá um coeficiente de 1,4 para quem é convictamente pró-capitalista, mas um coeficiente significativamente mais elevado de 3,8 para os convictamente anticapitalistas (Figura 5).

Figura 5 — Portugal: Atitudes anticapitalistas e a tendência para acreditar em teorias da conspiração

Coeficiente da teoria da conspiração: Percentagem média de inquiridos que concordam com estas duas afirmações: “Na realidade, os políticos não decidem nada. São fantoches controlados por forças poderosas nos bastidores.” “Muitas coisas na política só podem ser devidamente compreendidas se souber que há um plano maior por detrás, algo que a maioria das pessoas, no entanto, não conhece.” dividida pela percentagem média de inquiridos que não concordam com nenhuma delas.

Fonte: Inquérito Ipsos MORI 21-087515-07

Conclusão

Quando os números da liberdade económica e os dos dois conjuntos de questões sobre capitalismo são combinados, resultam num coeficiente de 0,71. Este coeficiente é importante para a comparação com outros países. No nosso inquérito, apenas seis países revelam tendências mais anticapitalistas do que Portugal (Figura 6).

Figura 6 — Coeficiente global das atitudes a respeito do capitalismo em 22 países

Nota: Quanto menor o coeficiente, mais acentuada a atitude anticapitalista.

Fontes: Inquérito do Instituto Allensbach 12038, inquéritos Sant Maral Foundation e Ipsos MORI 20-091774-30 e 21-087515-07

Combinando os dados relativos às respostas a todas as perguntas, vemos que o anticapitalismo prevalece entre os inquiridos portugueses que se definem à esquerda e ao centro do espectro político, enquanto as atitudes pró e anticapitalistas se equiparam entre os inquiridos de direita (Figura 7).

Figura 7 — Portugal: Coeficiente combinado das atitudes a respeito do capitalismo – Análise por orientação política

 Nota: Quanto menor o coeficiente, mais acentuada a atitude anticapitalista.

Fonte: Inquérito Ipsos MORI 21-087515-07

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