Aposto que Rui Rio não era muito bom a jogar futebol. Talvez até fosse daqueles donos da bola que, se começam a perder, mudam as regras ou pegam na bola e vão embora. Esta é a única explicação que encontro para o confrangimento que sinto ao ver Rio falar sobre as relações entre a política e o desporto rei.

Durante os seus mandatos na Câmara do Porto, Rio recusou sucessivamente abrir a Câmara aos festejos da equipa da cidade, campeã nacional e europeia, alegando não se querer empoleirar nas conquistas futebolísticas do clube da sua cidade. Rio usou, na altura, um discurso que aparentava ser razoável mas que, por reação a anteriores experiências de promiscuidade, escondia uma absurda falta de compreensão do seu papel enquanto Presidente da Câmara: não se pretendia que Rui Rio pegasse no megafone durante os festejos e começasse a cantar “Oh, meu Porto, onde a eterna mocidade; Diz à gente o que é ser nobre e leal” enquanto distribuída benefícios fiscais com a outra mão a jogadores e técnicos. Apenas se pedia que acompanhasse os festejos da cidade, dando um palco digno à equipa que a representa.

O mesmo Rui Rio, que viu ser inaceitável receber uma equipa que colocou o nome da sua cidade nas bocas do mundo, vem agora apresentar como seu candidato a Vila Nova de Gaia, António Oliveira, comentador futebolístico e maior acionista privado do clube que rejeitou anos a fio.

Fique claro: aqui o erro não é a escolha do candidato. Na verdade, pese embora a falta de vida política e a sua clara ligação ao Futebol Clube Porto, até ver (e até termos acesso às propostas que traz para a sua cidade), António Oliveira parece ser um candidato tão bom como qualquer outro, apresentando-se com vida profissional bastante (e não apenas futebolística) para poder, pelo menos, considerar-se um justo candidato à câmara do terceiro município mais populoso de Portugal.

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O problema, aqui, é a forma como Rio justificou a sua escolha.

Em primeiro lugar, disse que o candidato “não tinha nada a ver com o futebol”, declaração que apenas se poderá considerar verdadeira se nos olvidarmos da detenção de 7% de um dos maiores clubes nacionais e da sua profissão de comentador desportivo.

Em segundo lugar, disse que era irrelevante que o seu candidato detivesse ações de um clube de futebol, comparando isso com o facto de o próprio deter ações do BCP. Bem, salvo se Rio tiver 7% do BCP e for o seu maior acionista, talvez a comparação seja um pouco despropositada. Não sei o que será mais perigoso: se Rio considerar (inocentemente) que deter 7% de uma grande empresa não pode criar conflitos de interesses no seu candidato, ou fingir que não o sabe.

Em terceiro lugar, Rio (como não podia pegar na bola e ir para casa) apontou para Rui Moreira e para o seu relevantíssimo mandato de membro do Conselho Superior do F.C. Porto – cargo não remunerado e sem qualquer interesse patrimonial ligado ao desempenho do clube. Rio considera, mesmo, que ser membro de um órgão absolutamente secundário de um clube é maior impedimento a gerir uma câmara do que ser dono do exato mesmo clube?

Em vez de admitir as suas dívidas (como as contas à moda do Porto exigem) e perceber a necessidade de ajustar a sua tática para as autárquicas, Rio prefere jogar com desengonçadas bojardas. Se continuar assim, acabará a jogar sozinho.