Fundada em 1918, a Wageningen University & Research (WUR) é considerada a melhor instituição de investigação agrícola e ambiental do mundo. A WUR, também conhecida como Food Valley, para além da componente puramente pedagógica, é composta por um conjunto de empresas tecnológicas e explorações agrícolas experimentais que põem em prática diversos projetos inovadores para o setor agrícola e científico.

Considerada a melhor universidade da Holanda, a WUR é pioneira nas áreas das ciências da vida, alimentação saudável, ambiente, agricultura e florestas, tendo como missão explorar o potencial da natureza para melhorar a qualidade de vida. Prova do seu posicionamento vanguardista é o facto de ter atingido a neutralidade carbónica em 2015.

Superando todas as suas limitações geográficas, foram investimentos como a WUR que fizeram da Holanda o maior exportador europeu de produtos agrícolas e um dos maiores centros de atração de talento e empreendedorismo, fatores críticos para a inovação e crescimento económico das nações.

No outro lado do Atlântico, a Universidade de Stanford, fundada em 1890, tem atualmente um orçamento anual para a educação e investigação de quase 7 mil milhões de dólares, ou seja, metade do valor que Portugal espera receber a fundo perdido no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Mas nem sempre foi assim. Depois da Segunda Guerra Mundial, a universidade carecia de fundos para conseguir servir uma procura crescente. Como resposta, o reitor Frederick Terman, considerado o Pai de Silicon Valley, propôs a criação do Stanford Industrial Park, onde se passou a alugar terras a empresas tecnológicas.

Se a Califórnia é hoje o estado mais rico dos EUA, parte dessa riqueza advém do famoso Silicon Valley e das suas empresas, muitas delas formadas por alunos de Stanford, entre as quais a HP, Cisco, eBay, Yahoo, Google, Instagram, LinkedIn, Netflix, Nike, NVIDIA, Sun Microsystems e a Tesla.

Estes dois exemplos são demonstrativos do papel crucial que as universidades podem desempenhar na dinamização da sociedade, seja através da geração de conhecimento e inovação, seja na promoção da coesão territorial ou no combate às desigualdades.

Diversos estudos indicam que os fatores críticos para o sucesso das universidades são a sua dimensão, os seus fundos, a flexibilidade e autonomia da gestão, a interligação com a sociedade e a capacidade de captar professores e alunos talentosos. Para além desses fatores intrínsecos, a concorrência entre universidades é apontada como um dos aspetos mais relevantes para a liderança dos EUA neste campeonato.

Posto isto, seria positivo se o nosso Governo e as nossas universidades se empenhassem profundamente na reforma e reorganização do ensino superior, nomeadamente no reforço dos melhores cursos e centros de excelência, focados na inovação e na investigação aplicadas à saúde, ciências da vida, agricultura, engenharia, tecnologia e aeronáutica.

Exige-se também uma revisão dos conteúdos formativos, adaptando-os aos novos tempos. Em certos casos, através da cooperação entre universidades, poderá ser uma boa ideia complementar certos cursos de base técnica com conteúdos de empreendedorismo que apoiem os estudantes na criação dos seus próprios negócios.

Replicando o modelo de Wageningen e de Stanford, faz todo o sentido atribuir terras a empresas e experimentações inovadoras, juntamente com benefícios fiscais e protocolos colaborativos, por forma a tornar as capacidades de investigação desses centros ainda mais relevantes para a sociedade. Facilitando o processo de angariação de capital, devem ser também ser criadas infraestruturas e atribuídos benefícios que estimulem os fundos de capital de risco a interagir e a investir nesses negócios.

A criação de um ambiente fértil para o empreendedorismo jovem, sediado nas universidades, corresponderá às dinâmicas desta nova era. Um tempo em que muitas das maiores empresas do mundo foram criadas por estudantes. Se Portugal for capaz de aumentar o leque de ferramentas ao dispor dos jovens, estará a aumentar as possibilidades destes se tornarem nos grandes empreendedores do futuro. Ao criar esse ecossistema, Portugal poderá também atrair mais alunos estrangeiros, beneficiando do clima, das praias, da segurança, da gastronomia, da simpatia e do domínio da língua inglesa como fatores endógenos para a atração desses jovens.

Do ponto de vista regulatório, olhando para o sucesso dos EUA, não podemos continuar a descurar a criação de mecanismos de concorrência entre universidades, prorrogando o ambiente burocrático e protecionista atualmente em vigor. Uma das formas de estimular a concorrência poderá passar por atribuir benefícios financeiros às instituições que captarem mais alunos estrangeiros, ou conceder fundos de acordo com critérios meritocráticos.

Em suma, este momento exige visão, liderança e coragem para mexer em interesses instalados e executar medidas verdadeiramente transformadoras que coloquem as universidades ao serviço dos nossos jovens. Os próximos anos vão ser pródigos em inovação e atividade científica, com o aparecimento de novos conteúdos e formatos de educação, acelerados pela pandemia, e Portugal não pode dar-se ao luxo de perder esse comboio do progresso.

Não tenhamos dúvidas. As universidades, se bem geridas, são um dos melhores instrumentos para empoderar os jovens, que, sem regalias, sem privilégios, sem proteção laboral e sem poder, podem encontrar no conhecimento o elixir para realizarem os seus sonhos e libertarem-se da pesada herança que esta sociedade espartilhada e endividada lhes deixou, escapando ao desemprego jovem e aos baixos salários.