A hipocrisia que está a levar o regime à falência e a dar cabo da vida de pessoas comuns, e o modo como alguns usurpam o poder através do monopólio da legitimidade da palavra, justifica fortíssimas indignações. É neste momento, não noutro, que devem ser manifestadas.
Não duvido que Pedro Passos Coelho, líder do PSD, foi imprudente ao referir-se a um caso ou a casos de suicídio na sequência do incêndio de Pedrógão Grande por falta de apoios atempados do Estado. Porém, bem pior está a ser a reação brutal das redes sociais, secundada por declarações oficiais do PS que a sua fiel mensageira, a TSF, acabou de passar num dos seus noticiários.
Reservo-me o direito a uma reação não menos brutal. Se o facto é relevante, a atitude de Pedro Passos Coelho, ainda mais relevante nos domínios cívico e político é o fenómeno que ele voltou a destapar, esse sim sustentáculo de governações irresponsáveis que propagam muitos fogos, fictícios ou simbólicos, de que Portugal há décadas padece.
As recentes palavras do líder do PSD estão e irão permitir tapar o sol com a peneira, mas apenas se deixarmos. Os tolos de uma certa esquerda estão convencidos de que, uma vez mais, podem instrumentalizar a patetice da “falta de sensibilidade social” da direita por cima de cadáveres reais, desta feita simbolizada num suposto aproveitamento sanguinolento de um dos seus líderes num momento difícil para o país.
Pedro Passos Coelho, ser humano como qualquer um de nós, simplesmente não merece o que está a ser feito e apenas por ser político do campo “moralmente sempre errado”.
O rol de adjetivações violentas de que o atual líder do PSD sempre foi alvo, sobretudo enquanto governante e por situações muitíssimo menos graves e mesmo injustificadas, tornou-se no espaço público uma espécie de direito divino das esquerdas. Se ele, Pedro Passos Coelho, dispõe de créditos mais do que suficientes para se equivocar sem ver beliscada a sua rara postura de estadista nesta nau de histriónicos, não me exijam, enquanto cidadão, que engula com complacência um sapo a abarrotar de urnas.
Por que razões não será legítimo rotular politicamente de homicidas por negligência ou, para usar uma retórica mais ajustada à esquerda, de assassinos por negligência os responsáveis máximos de um estado que, face a um conjunto de episódios graves com datas e locais inequívocos, socialmente não se livrará de indícios sustentáveis que o apontam como responsável por muitas mortes, sendo parte delas seguramente evitável?
Cansa viver num país em que a liberdade de expressão quando é verdadeiramente incómoda é uma miragem e, quando funciona, é sempre para um mesmo lado, o esquerdo. Uma das causas estruturais de sofrimento e pobreza. Deste ou de qualquer povo.