O turismo é um dos principais impulsionadores da economia nacional e também um dos motivos pelos quais Portugal é mais conhecido internacionalmente. A pandemia mostrou que o autocaravanismo era uma tendência em crescimento entre os Portugueses, mas esta evolução está a ser afetada e arriscamo-nos a deixar passar uma oportunidade para fazer crescer o turismo local.

Desde o início do ano que os autocaravanistas se depararam com mudanças nos seus planos de viagem, devido à alteração ao artigo 50-A do Código da Estrada, que entrou em vigor a 8 de janeiro, proibindo os autocaravanistas de pernoitarem fora dos locais autorizados para autocaravanas e veículos similares com ocupantes entre as 21h00 e as 07h00. Passado mais de meio ano, os efeitos já se fazem sentir – e as notícias não são as mais promissoras para o turismo nacional.

De lá para cá, houve uma diminuição no número de reservas por parte de viajantes estrangeiros, fazendo com que Portugal deixasse de ser a principal escolha por quem nos visita vindo de outros países. Contudo, essas pessoas não deixaram de escolher a autocaravana como forma de viajar, mas optaram por outros países, como, por exemplo, o caso do nosso país vizinho.

A alteração na lei afeta as receitas que os turistas, tanto nacionais como estrangeiros, podem aportar a Portugal e à melhoria da economia local, principalmente após a pandemia da Covid-19 que afetou o turismo. É uma decisão desproporcionada, com impacto direto no turismo.

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É claro que é necessário sensibilizar para a importância do respeito pela natureza e aplicar medidas preventivas, mas não proibir. Devemos reforçar a sensibilização para a importância de sermos responsáveis e conscientes da riqueza do meio ambiente e de tudo o que nos rodeia, procurando preservar o melhor que a natureza nos dá.

A regularização é importante, mas proibir por completo não vai resolver a situação da pernoita ilegal. Por outro lado, leva a que Portugal deixe de ser, paulatinamente, uma opção a considerar quando se pensa em viajar de autocaravana, até porque a pernoita apenas é permitida nos parques de campismo e nas áreas de serviço de autocaravana. Contudo, em Portugal, estas são inexistentes em várias localidades, obrigando os viajantes a percorrer vários quilómetros para pernoitarem e, muitas vezes, as áreas de serviço já não têm lugares disponíveis, afetando por completo o itinerário dos viajantes.

O autocaravanismo é sinónimo de liberdade, autonomia e maior ligação com a natureza. E muitos desconhecem o seu potencial a vários níveis, como no aumento da economia local. Há algumas cidades ou vilas pequenas que têm cada vez menos habitantes, sendo também de difícil acesso quando não se viaja de carro e onde as opções de pernoita em entidades hoteleiras são bastante limitadas. Desta forma, o autocaravanismo era uma fonte de receitas para essa população, dando a conhecer as tradições e preciosidades locais. Após esta alteração, os viajantes acabam por não visitar estas localidades, uma vez que não conseguem pernoitar nas proximidades.

O setor do autocaravanismo está a bater recordes na Europa em vendas dos veículos de lazer. Todavia, Portugal está a fechar a porta a este tipo de turismo internacional, mas também ao nacional. Desta forma, a tendência de viajar em autocaravana vai continuar a crescer, mas Portugal não irá beneficiar deste setor em franco crescimento. O nosso país tem incontáveis recantos por descobrir e histórias por contar, reunindo as condições perfeitas para viagens inesquecíveis ao volante de uma autocaravana. É importante, por isso, perceber o impacto já significativo desta alteração e evitar que se continue a perder o potencial para promovermos o turismo nacional, dando mais espaço para o setor crescer.