O cheiro a campanha já se sente no ar! Ruas, avenidas, vielas ou becos são inundados de cartazes e outdoors que tomam conta da paisagem. Duvido que tenham a capacidade de cativar ou mudar a intenção de voto do mais comum dos cidadãos, mas a tentativa é legítima. As frases e slogans de ordem têm vindo, com o evoluir dos tempos, a decrescer no que à criatividade diz respeito. Parece que a inspiração vagueia sabe-se lá por onde, longe da audácia e sagacidade dos cartazes e apelos políticos do pós-Revolução, onde o espírito verdejante da democracia dava azo a uma inspiração capaz e entusiasta dos novos e belos tempos, quer à direita, quer à esquerda, mas sobretudo ao PCP à esquerda deste.
“As campanhas são todas iguais e só sabem poluir, física e sonoramente!”, confessava-me há poucos dias um reformado que fumava um Ventil à entrada da estação ferroviária de Aveiro. E é capaz de ser isso, sim. “Nem a merda de uma caneta têm!”, prosseguiu. Apertei-lhe a mão, dando-lhe razão. O desuso de lapiseiras – já para nem falar de isqueiros – é um dos cancros das actuais arruadas políticas. Os candidatos preferem beijocas e abraços e panfletos estranhos com fotografias de pessoas de semblante sério e de braços cruzados, como se estivessem a promover a venda de um imóvel qualquer, provavelmente por um valor absurdo. Depois, nomeadamente no que toca ao PSD e Iniciativa Liberal, há quem adopte e adapte cânticos de claques para, pensarão eles, tornar o ambiente mais intimidatório para os adversários. Pulam e gritam. Têm megafones e cachecóis e coisas dessas. E no meio daquela adrenalina, alguém fica com as calças imaculadas e de cor bege sujas e o caldo fica entornado por breves instantes, até acalmarem. A malta do PCP parece ser aquela que mais sente tudo isto de andar pela rua, dada a ampla experiência vinda da clandestinidade. O “fascismo nunca mais” e os “direitos laborais” não se lhes esgota desde 1921 e, principalmente, 1975. Carecem cabelos ondulas, calças à boca de sino e bigodes. Principalmente bigodes. O Bloco e o Chega apostam mais em bandeiras e bandeirinhas. Terão imensas em stock, numas garagens quaisquer. Alguns dos militantes destes partidos chegam a ter, cada um, duas bandeiras em mãos. A Mariana Mortágua ri-se para quem gosta dela, para quem não gosta, é lhe lançado um olhar algo feroz. O André Ventura dá-me dores de cabeça. Lembra-me a minha avó que quando não tem razão eleva a voz para abafar a outra. Acaba aplaudida pelos vizinhos como Ventura acaba venerado por quem não conhece – ou faz por esquecer – Portugal de 1926 a 1974.
Mas fora isso, tá tudo bem. É a democracia e a liberdade a funcionarem. A magia e envolvência resultante das campanhas e arruadas eleitorais perderam, talvez naturalmente, o brilho abrilino. Têm sido tão úteis nos tempos que correm como o “el Professor” nas últimas temporadas de “La Casa de Papel”. Enfim, é lidar.