Jesus, no Sermão da Montanha afirmou: «Quem dentre vós, querendo construir uma torre, não se senta primeiro para calcular a despesa e ver se tem com que a concluir? Não suceda que, depois de assentar os alicerces, não a podendo acabar, todos os que virem comecem a troçar dele, dizendo: ‘Este homem começou a construir e não pôde acabar.’» (Lc 14, 28-30). Estas palavras, inesperadas na boca de um líder religioso, marcam mais um aspeto insólito que destaca a doutrina de Cristo das suas congéneres.

A religião tem como objeto próprio o sentido da vida, o propósito da existência, o destino final pessoal e global. Perante temas tão profundos e transcendentes, é fácil perder de vista a mesquinhez da intendência quotidiana. Quem vive com os olhos no Céu costuma esquecer o mundo. Quantas vezes se ouve dizer que «o que conta é a intenção», descuidando a morosa implementação dos projetos sublimes?

No entanto, na fé cristã essa atitude desprendida constitui pecado grave. A crença no Deus feito carpinteiro inclui a eficácia operativa entre os seus valores. A Igreja quer fiéis com os olhos no Céu, mas os pés bem fincados no chão. S. Paulo avisa que «se alguém não quer trabalhar também não coma. Ora constou-nos que alguns vivem no meio de vós desordenadamente, não se ocupando de nada mas vagueando preocupados. A estes tais ordenamos e exortamos no Senhor Jesus Cristo a que ganhem o pão que comem, com um trabalho tranquilo.» (2Ts 3, 10-12) Angelismo esotérico ou alienado não é para cristãos, os quais, como ensina a Regra de S. Bento, devem rezar e trabalhar (ora et labora) com igual empenho.

Embora isto seja verdade, permanecem fortes obstáculos nesta área. Não restam dúvidas que os dirigentes eclesiais, quando lidam com as questões operacionais da gestão e administração, enfrentam problemas evidentes e incontornáveis. As técnicas produtivas e comerciais, desenvolvidas no campo dos negócios, traduzem-se mal para o mundo da liturgia, pregação e caridade, as três funções primordiais da Igreja. Quantas vezes os dois mundos, da pastoral e da gestão têm dificuldade em entender-se?

A Faculdade de Ciências Económicas e Empresariais da Universidade Católica Portuguesa, uma das mais prestigiadas escolas de gestão do país, tem realizado ao longo do tempo várias tentativas para ligar estes dois mundos da benevolência e administração. Pode mesmo dizer-se que, pela sua inserção numa instituição da Igreja Católica, este esforço constitui parte essencial da sua identidade. O «Programa de Gestão e Liderança para Dirigentes Eclesiais», que terá mais uma edição de 15 de abril a 9 de julho, é uma concretização deste desiderato. Trata-se de um curso de 80 horas, dividido em 12 módulos, agregados em quatro áreas temáticas: Enquadramento Económico, Jurídico e Ético; Finanças, Projeto e Fiscalidade; Empreendedorismo e Inovação e, finalmente, Liderança.

Curiosamente, a simples realização deste curso manifesta, em si mesma, traços da referida dificuldade. O custo de um programa desta qualidade coloca-o naturalmente acima das posses das instituições de benemerência, sempre pobres e limitadas. Este problema incontornável foi resolvido por dois meios. Por um lado, os docentes aceitaram reduzir muito significativamente as suas remunerações, num espírito de voluntariado, adequado ao tema da iniciativa. Por outro, a Fundação Amélia de Mello concedeu um generoso patrocínio, permitindo descer ainda mais o preço. Desta forma, também na gestão do curso surgiu o elemento da caridade.

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