A BlackRock é a maior gestora de fundos de investimento à escala global, com quase US$ 7 triliões de “assets” sob gestão (equivalente ao dobro do PNB alemão). Em Portugal, detém participações em empresas, como a EDP, Jerónimo Martins, Galp, Millennium BCP, NOS, CTT e Sonae.
Larry Fink, o seu fundador e CEO, tem o hábito de dirigir uma carta anual a todos os seus CEOs espalhados pelo mundo, enfatizando a questão nuclear que devem acolher ao desenhar e implementar as suas estratégias em cada ano.
A carta anual de Fink aos principais executivos das maiores empresas do mundo é seguida de perto por muitos e a de 2020 acaba de ser publicada.
Em 2018, a sua carta introduziu definitivamente o conceito de Propósito (“Purpose”) na agenda estratégica de muitas das maiores empresas mundiais. Destacando uma das declarações da altura: “A sociedade exige que as empresas, públicas e privadas, sirvam um propósito social. Para prosperar ao longo do tempo, cada empresa deve não só demonstrar um bom desempenho financeiro, mas também mostrar como fazer uma contribuição positiva para a sociedade. As empresas devem beneficiar todos os seus “stakeholders”, incluindo acionistas, empregados, clientes e as comunidades em que operam”.
A carta do ano passado, 2019, teve o enorme mérito de seguir o mesmo caminho, aprofundando e confirmando o conceito de que “lucro e propósito estão indissoluvelmente ligados”. E terminava com uma mensagem muito clara: “As empresas que definam e cumpram o seu Propósito e as responsabilidades que daí resultam para com todos os “stakeholders” são as que triunfarão no longo prazo. As outras não sobreviverão”.
Na carta deste ano, a mensagem-chave é a de que a BlackRock tomará decisões de investimento sempre com a sustentabilidade ambiental como objetivo central, e, neste contexto, começaria a sair de certos investimentos que “apresentam um alto risco relacionado com a sustentabilidade”.
Outras mensagens importantes:
- “A consciência (pelo tema da sustentabilidade) está a mudar rapidamente, e eu acredito que estamos à beira de uma reformulação fundamental na forma como se avaliam e financiam os investimentos (…), as evidências sobre o risco climático obrigam os investidores a reavaliar os pressupostos fundamentais das suas apostas. Mesmo que apenas uma fração da ciência esteja certa, esta é uma crise muito mais estrutural e de longo prazo do que se possa pensar”
- “A mudança climática é, invariavelmente, a principal questão que os clientes em todo o mundo levantam com a BlackRock”
- “Haverá uma grande mudança, muito mais cedo do que muitos possam imaginar, na forma como o dinheiro será alocado. Esta dinâmica vai acelerar à medida que a próxima geração assuma o comando das empresas e de cargos públicos. Triliões de dólares passarão para as mãos da geração dos millennials nas próximas décadas, e à medida que estes vão ascendendo a essas posições de topo, remodelarão ainda mais intensamente a abordagem aos temas da sustentabilidade.”
A carta não deixa ainda de reforçar as mensagens dos anos anteriores sobre Propósito. “Uma empresa não pode alcançar lucros de longo prazo sem adotar e ser claro sobre o Propósito que as move. Em ultima analise, essa será a única garantia de sustentabilidade económica a longo prazo”.
Larry Fink nem sempre foi o primeiro a abordar questões ambientais ou sociais, mas a sua carta anual tem a enorme capacidade de influenciar e mudar as discussões nas reuniões dos Conselhos de Administração em todo o mundo. Como dizem por Wall Street “Quando a BlackRock fala, o mundo ouve”.