Sr. Embaixador, gostaria de lhe colocar algumas questões.
Como é que Israel preconiza o futuro de Gaza, especialmente no que concerne às múltiplas famílias inocentes que perderam as suas casas? Qual o plano de compensação para estas famílias, assumindo à partida que elas hão-de poder retornar às suas casas depois do conflito? E para aquelas cujas casas foram destruídas, há um plano de compensação/reconstrução previsto?
Por favor, note que não estou a questionar a legitimidade da guerra contra o Hamas, que acredito ser um mal necessário. Contudo, não é fácil para mim compreender como o atual nível de destruição, que faz centenas de milhares de sem-abrigo e desesperados diariamente (já para não falar dos mortos) pode alguma vez contribuir para que, no futuro, os gazanos vejam Israel, senão como um amigo, pelo menos como um bom vizinho, ou como uma autoridade legítima de pacificação do território. Porque acredito que Israel quer assegurar alguma legitimidade política no futuro que vá para além da autoridade da força, seja como eventual força governante (temporária) da Faixa de Gaza, seja como apoiante de uma autoridade palestiniana que seja, na medida do possível, pró-israelita (pois não pode ser de outro modo, se é suposto que tal autoridade aceite certas pré-condições para governar Gaza, como seja a desmilitarização permanente e uma vigilância apertada de qualquer veleidade terrorista, ainda que não seja fácil de ver como é que ambas serão possíveis simultaneamente).
Tem de concordar comigo que tal legitimidade mínima não pode ser conquistada tendo a população contra nós, ou odiando-nos com um ódio profundamente enraizado. Israel deveria estar concentrado em derrotar o Hamas oferecendo, simultaneamente, uma visão de futuro e de esperança aos gazanos que os trouxesse paulatinamente para o seu lado da barricada. Não só contendo a violência mais ou menos indiscriminada contra civis, mas também apresentando um plano claro de compensação/reconstrução que não deixe a população palestiniana na incerteza atual de estarem ou não perante uma nova Nakba, que vem somar-se a todas as outras incertezas associadas à condição de deslocados despojados de tudo. Em termos mais gerais, Israel deve também deixar clara a sua visão quanto ao rumo futuro do processo de paz, e se apoiará, ou não, um eventual futuro estado palestiniano, e em que termos, ou pelo menos uma maior autonomia dos territórios ocupados.
Se é verdade que o Hamas e a população de Gaza estão profundamente misturados e, por conseguinte, se tornou muito difícil distingui-los, maior é a importância de conquistar os hearts and minds da população para uma campanha bem sucedida, militar e políticamente. Nunca devemos esquecer a lição que os EUA nos deram no Afeganistão (e, mais atrás ainda, no Vietname): o custo é alto e todo o esforço contraproducente se as pessoas forem esquecidas.
As maiores considerações,
Ruben David Azevedo