Caríssimos médicos,

Quando o meu filho de 4 anos me diz que tem fome, eu, como Mãe, sinto-me feliz por poder alimentá-lo e por ter a capacidade de me colocar no lugar dele. Mas quando os seus olhos, por detrás de uma máscara, espelham medo e angústia na Covid e eu não tenho resposta dia sim, dia sim… a revolta instala-se e corrói os nossos corações por sabermos e sentirmos que nem tudo está a ser feito por quem conhece a fundo, ensina e investiga a fundo, opina e também tem filhos.

Então, como tocar a consciência dos que não dormem, dos que sabem, mas não se assumem?

Dos que esperam, sem saberem porquê, que alguém “faça algo” e agarre o leme anímico de uma sociedade congelada na sua interação e cegueira colectiva?

Não é tempo nem é hora para cartas, mensagens lamechas ou de vitimização, muito menos de acusações políticas ou fogueiras de vaidade.

Isto não é uma revolução, porque o desassossego e a dúvida habitam o nosso âmago desde a primeira hora. Isto não é mais um grito, um apelo ou uma súplica. Isto é, e só pode ser, um acto de coragem, talvez na única oportunidade de crescermos e acordarmos como seres conscientes das verdades que constroem e enraízam uma sociedade de Bem e para o Bem.

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Uma sociedade que não admite que lhe adormeçam a alma, anestesiem o ânimo e matem a vida em todos os seus aspectos criativos.

E quando é fácil responder a tudo como “teoria da conspiração”, a teia aperta.

E quando é simples nos justificarmos no escudo das carreiras profissionais, os silêncios multiplicam os mudos numa insensibilidade irracional.

A coragem é para todos, mas só alguns a assumem de peito aberto como fruto que alimentará, no agora, as gerações sem medo e esclarecidas por se terem aliado inteligentemente à luz da ciência e da sabedoria.

Este é o momento de curar, tranquilizar e dar esperança, aniquilando de uma vez a ignorância, o preconceito e o “reflexo de rebanho” tão presente e atroz ao nosso redor.

O que é um médico senão um Ser em Serviço de corpo e alma, imbuído de um código de ética e honra universal?

Um Ser que sabe que, sem chama interior, um corpo morre antes que a doença o apanhe?

Por vezes, a aliança de várias especialidades levam, felizmente, à cura antes que qualquer triste desfecho aconteça.

De igual modo, hoje este corpo-sociedade esvai-se a olhos vistos sem o alimento da verdade.

Sem um diagnóstico médico credível, abrangente e responsável. Sem o acompanhamento psicológico a todos os níveis da sociedade. Sem uma aliança médica de coragem ao leme de Portugal.

Para lá de todos os patriotismos, está a memória que quero levar quando partir; é a de que agi de peito aberto e sem medo!