“Recorramos a tudo o que é eficaz para comunicar a Alegria do Evangelho”
(Christus Vivit, 205)

Nós jovens, membros batizados da Igreja de Cristo e peregrinos nas comunidades portuguesas, crentes na proveniência Divina do Documento Conciliar Lumen Gentium (LG), animamo-nos na fé de que “é nesse Corpo [Igreja] que a vida de Cristo se difunde nos que creem, unidos de modo misterioso e real, por meio dos Sacramentos, a Cristo Padecente e Glorioso” (LG,7), queremos dirigir-nos a vós, bispos de Portugal, “presidentes em lugar de Deus ao Rebanho de que são Pastores como Mestres da Doutrina” (LG,20), após a publicação da Relatório de Portugal (RP) ao Sínodo 2021-2023.

Sentimo-nos profundamente interpelados pelo pendor negativista e pela duvidosa generalização de algumas das conclusões do citado relatório.

Em ordem a melhor clarificar do que falamos, partilhamos 5 pontos que particularmente nos interrogam.

 I – Representatividade eclesial do relatório.

“Foi sentida uma maior indiferença na população jovem, que se mostrou pouco confiante com o resultado do processo sinodal por acreditar que não serão implementadas mudanças na Igreja, ao ritmo e visibilidade que anseiam” (RP).

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Estamos convencidos de que esta aparente indiferença tem sobretudo a ver com a ideia que os jovens de fé maturada têm de Igreja. Isto poderá ter levado a que duvidassem e desacreditassem de um processo de auscultação desta natureza sobre matérias que a Igreja, pela Escritura e pela Tradição, tem bem discernidas e clarificadas.

Numa geração em que muitos jovens têm acesso no percurso académico a bases elementares de metodologia científica é inevitável constatar que a amostra geral deste relatório nacional e dos relatórios das dioceses portuguesas não cumprem os requisitos mínimos de base da metodologia de investigação em Ciências Sociais, o que exigiria, no mínimo, algumas reservas na formulação de conclusões tão taxativas como o Relatório apresenta.

II – A forma de (se)ver a Igreja.

“O mundo precisa de uma “Igreja em saída”, que rejeite a divisão entre crentes e não crentes, que olhe para a humanidade e lhe ofereça mais do que uma doutrina ou uma estratégia, uma experiência de salvação (…)” (RP).

A Igreja parece ser vista como uma mera organização social e não como uma realidade sacramental em ordem à Salvação (LG1). Percebe-se a existência de uma deturpação da ideia de sinodalidade para uma lógica plenária que confunde os fiéis e os faz ter uma ideia “parlamentar” e “referendária” da Igreja, da Doutrina e até da hermenêutica evangélica.

Parece-nos, aliás, que esta afirmação confunde a verdadeira percepção da identidade da Igreja, desde sempre entendida pelos seus santos pastores como “Mãe e Mestra” e “coluna e fundamento da verdade” (1 Tm 3, 15).

III – O tom negativo do Documento.

“uma Igreja que tem dificuldade em fazer caminho com os jovens, negligenciado a importância de lhes proporcionar um espaço onde possam mostrar os seus talentos individuais e vontade na Igreja, e de colocar ao serviço da comunidade as suas capacidades” (RP).

Particularmente no que diz respeito aos jovens o Documento apresenta uma visão bastante parcial da realidade. Entristece-nos saber que o relatório não tem em conta a experiência de um grande número de batizados que contradiz as conclusões apresentadas, nomeadamente os frutos dos movimentos católicos juvenis que enraizados na fé da Igreja levam esperança ao mundo de hoje.

Os catequistas que dão horas de sono para se entregarem ao estudo da doutrina para a ensinarem aos mais novos. Os Grupos de Jovens que enraizados na fé e animados pela amizade peregrinam para Deus. Os Núcleos de Estudantes Católicos que levam a mensagem salvífica da Igreja aos seus colegas e professores na academia. A Missão País que através de uma semana intensa de vida sacramental e ação social leva Jesus a tantos espaços e em especial aos jovens que ganham nova vida apostólica. As centenas de Campos de Férias Católicos que renovam a vivência da fé cristã em período de férias, com base em animadores e casais jovens desprendidos e voluntários. Os inúmeros grupos de voluntariado jovem que em ambientes nem sempre cristãos dão testemunho de fé e amor ao próximo. Os jovens que se entregam à política como forma de serviço cívico e cumprindo os ensinamentos da Doutrina Social da Igreja, defendendo a vida humana em todas as suas etapas e os ensinamentos cristãos na sua totalidade, tantas vezes sem olhar aos elevados custos humanos. Os múltiplos jovens que se dedicam ao estudo sério de várias matérias para garantirem a presença do pensamento e cultura cristãs em vários círculos da nossa sociedade portuguesa.

III – A celebração da liturgia como louvor a Deus e a não “funcionalização” do Sacerdócio.

“É fundamental que os jovens se sintam comprometidos com a sua Igreja, mas que a Igreja se sinta disponível para os motivar” (RP).

Preocupa-nos que na liturgia, particularmente na Eucaristia, a divisão que a instrumentalização das Celebrações tem provocado nas comunidades, grupos e movimentos. A liturgia sujeita a subjetividades pessoais, pode confundir e afastar os fiéis, particularmente os jovens, de um espírito celebrativo comum, que reconhecendo os vários carismas existentes, está assente sempre no princípio de um sentido Universal da Igreja.

Entristece-nos perceber que em muitas situações o sacerdócio é reduzido a uma “função”, parecendo-nos, não só, esse funcionalismo não contrariar o clericalismo, potenciando o seu crescimento à luz de novas hierarquias sociais marcadas pelas tendências do mundo: sacerdotes empresários, gestores, fazedores do sagrado, instagramers, influencers ou ativistas.

Contudo, damos Graças a Deus pelos muitos sacerdotes que diariamente vivem o ministério sacerdotal de Cristo fiéis ao Senhor e à Igreja, particularmente junto dos jovens. Pelo seu exemplo estes sacerdotes motivam-nos e fazem-nos comprometidos na nossa missão batismal. Infelizmente parecem ser pouco relevantes ou mesmo esquecidos neste relatório, mas a todos eles estamos imensamente agradecidos, pois através deles percebemos o próprio Jesus que nos acompanha.

  IV – A linguagem dúbia no Documento.

“identidades e expressões de género” (RP).

Reconhecendo a importância do diálogo com o mundo de hoje, interpela-nos a utilização de conceitos cientificamente não fundamentados e contrários ao mais recente Magistério do Papa Francisco (Homem e Mulher os criou, 2019), bem como à Carta Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa (A propósito da Ideologia de Gênero, 2013). Fica-nos a sensação de que não foi tido com devida conta o condicionamento mediático dos respondentes no que a estas questões diz respeito.

Ficamos convencidos, embora com preocupação, que se evita esclarecer os mais jovens sobre os temas de base da antropologia cristã, antes se permitindo, pelo silêncio, a progressiva contaminação dos discursos e consciências sobre tais matérias.

Por fim, e recordando a sugestão que preside à reflexão sinodal – Que Igreja Deus quer que sejamos no terceiro milénio? – queremos reafirmar-nos disponíveis para a escuta do Espírito propondo o seguinte itinerário:

  • Tomar consciência do que é a Igreja e de qual a sua Meta;
  • Fazer um justo diagnóstico das necessidades de evangelização à luz da Palavra de Deus e da Sagrada Tradição;
  • Construção de um percurso comum de redescoberta dos Dons de Deus presentes na Sagrada Liturgia;
  • Aprofundar e estudar o Catecismo (youcat), como nos pediu o Papa nas JMJ de Madrid 2011;
  • Desmistificar a ideia de que o Bom, o Belo e o Verdadeiro não é compreensível na faixa etária juvenil, promovendo a sã piedade e o cuidado com “as coisas de Deus”;
  • Divulgar as boas práticas e experiências das comunidades cristãs;
  • Promoção do Ideal de Santificação da vida, tal como nos disse o Papa Francisco nas JMJ do Rio de Janeiro, através da “oração, Sacramentos e da ajuda aos demais”;

Por tudo isto, reverendíssimos senhores bispos, com a convicção de que somos “alegres na esperança” (Rm 12,12) queremos viver este tempo de preparação para as JMJ Lisboa 2023 como oportunidade de escutar o Espírito, também Ele manifestado no sensus fidei fidelis — sentir da fé — dos jovens.

Garantindo a nossa oração pela Igreja e por vós, esperamos poder contar convosco, pois independentemente da ideia passada de que não há jovens que amem a Deus, a Igreja e os seus ensinamentos, muito fruto da “ditadura e do desespero dos números”, sabeis que sempre podeis contar connosco.

3 de Setembro, na Memória de São Gregório Magno, Papa e Doutor da Igreja,

Os signatários,
Pedro Barata de Tovar, 28 anos, Diocese de Aveiro
João Paulo Vieira, 31 anos, Diocese de Coimbra
Carlos Antunes, 32 anos, Diocese de Lisboa
Bernardo Ribeiro de Mesquita, 31 anos, Diocese do Porto
Vasco de Almeida Ribeiro, 31 anos, Diocese de Lisboa
Sebastião Ribeiro, 27, Diocese de Lisboa
Manuel Castel-Branco, 29 anos, Diocese de Portalegre – Castelo Branco
José Maria Brito Correia, 21 anos, Diocese de Lisboa
Nuno de Faria Cardoso Ribeiro, 28 anos, Diocese do Porto
José Lemos Gonçalves Lima, 20 anos, Diocese do Porto
Diogo Neves, 27 anos, Diocese de Portalegre – Castelo Branco
Ana Filipa Santos, 28 anos, Diocese de Coimbra
Maria José  de Almeida, 34 anos, Diocese do Porto
Mafalda Sabido Falcão, idade 24, Diocese de Lisboa
Filipa Gomes da Costa, 24 anos, Diocese de Lisboa
Vasco Teixeira Duarte, 20 anos, Diocese de Lisboa
Mariana Fino Fernandes, 27 anos, Diocese do Porto
Francisco Cid da Silva, 22 anos, Diocese de Évora
Luís Barata de Tovar, 21, Diocese do Porto
António Telles Costa, 24, Diocese Portalegre-Castelo Branco
Susana e Henrique Cordovil, 26 e 30, Diocese de Lisboa
Marisa Pereira, 24 anos, Diocese de Leiria-Fátima
Luís da Costa de Almeida, 30 anos, Diocese de Coimbra
Guilherme Faria Gouveia, 24 anos, Diocese do Funchal
José Guilherme Costa, 16 anos, Diocese de Lisboa
Diogo Leão, 28 anos, Diocese do Porto
Maria Salvação Barreto, 25 anos, Diocese de Lisboa|
Mamede Broa Fernandes, 25 anos, Diocese de Évora
Pedro Correia Miranda, 30 anos, Diocese do Porto
Bernardo Neuville, 24 anos, Diocese de Lisboa
Henrique Ribeiro, 27 anos, Diocese de Lisboa
Gonçalo Sá da Costa, 25 anos, Diocese do Porto
Maria Leonor Castel-Branco, 27 anos, Diocese de Portalegre – Castelo Branco
José Mesquita Guimarães, 20 anos, Diocese de Braga
José Pedro Simões, 28 anos, Diocese do Porto
Hélder Fernandes, 37 anos, Diocese de Lisboa
Afonso Ribeiro de Luís Martins, 26 anos, Diocese de Lisboa
Daniela Belchior Costa, 26 anos, Diocese de Lisboa
Francisco Marques Estaca, 23 anos, Diocese de Lisboa
Rafael Vieira Fernandes, 31 anos, Diocese de Aveiro
Maria Clara Brito de Goes, 26 anos, Diocese de Lisboa
Rui Araújo Martins, 27 anos, Diocese de Lisboa
Carlos Miguel Carteiro, 24 anos, Diocese de Lisboa
António Vieira Duque, 22 anos, Diocese de Lisboa
António Santiago Sottomayor, 27 anos, Diocese de Lisboa
Isabel Malheiro Sarmento, 31 anos, Diocese do Porto
João Lucas Nicolau, 16 anos, Diocese de Braga
Maria Vidal Grilo, 22 anos, Diocese Lisboa
João da Silva Pita, 25 anos, Diocese do Jean Pierre de Andrade Neuville, 31 anos, Diocese de Lisboa
Francisco Mesquita Guimarães, 24 anos, Diocese de Braga
Afonso Teixeira Duarte, 26 anos, Diocese de Lisboa
Gonçalo Andrezo Bastos, 16 anos, estudante, Diocese de Braga
Tomé Baptista Cardoso, 24 anos, Diocese Setúbal
Rafael Mesquita Guimarães, 16 anos, Diocese de Braga
António Carvalho Capela, 29 anos, Diocese de Lisboa
Sara Marques Pereira, 20 anos, Diocese de Lisboa
Mariana Craveiro, 20 anos, Diocese do Porto
Marta Baptista Miranda, 22 anos, Diocese de Viana do Castelo
Carlota Alvim Maya, 22 anos, Diocese de Lisboa
Bernardo Lobo Xavier, 23 anos, Diocese de Lisboa

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