“Precisamos de um movimento ambientalista, e tal movimento não é muito efetivo se é conduzido como uma religião”
Michael Crichton

Dia 22 de Abril foi Dia da Terra. Este ano, em pleno período de confinamento, a celebração adaptou-se: em vez de desligarmos a luz por uma hora, temos uma semana de festejos. O caminho da salvação chega-nos pela internet.

Naquele tempo, tudo era paradisíaco: não havia plástico, petróleo, desperdício ou mercados financeiros. Gaia, cujo nome é retirado da mitologia grega, vivia feliz com o perfeito equilíbrio entre todas as coisas vivas e não vivas.

Até que, não satisfeitos com este mundo de unicórnios e arco-íris, ousámos comer o fruto proibido: crescemos e multiplicamo-nos, e caímos em desgraça por alterarmos o meio em nosso redor, em nosso proveito.

Somos pecadores. E agora Gaia está febril com a infecção de nome humanidade, e muito irritada, penalizando-nos com furacões, terramotos, incêndios, pandemias virais. Gaia vinga-se, fazendo-nos provar o nosso próprio veneno… Profetas do Apocalipse, bem nos avisam: isto piora a cada dia que passa, o fim está próximo.

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A boa notícia, é que a salvação está à distância de um ecrã de telemóvel. Convertemo-nos e disputamos este combate entre o bem e o mal, não apagando a luz uma hora pelo planeta (aquela hora em que nos esquecemos que muita gente no mundo não a tem), mas sim munidos de telemóvel, lutando contra os maus das minas de lítio; nós, os bons, que não usamos transportes, não tomamos medicamentos, não fazemos lixo, nem sequer tocamos em dinheiro, contra os maus poluidores que poluem porque querem e gostam.

Não quero passar a ideia de que não nos devemos preocupar com o ambiente. Pelo contrário, um bom ambiente é um direito constitucional. Exigir tal direito não carece de conversão ao ambientalismo. Mas as políticas neste domínio, carecem de racionalidade, algo que, no meio de tanta emoção se pode perder, ao sobrepor crenças a factos.

Não está tudo pior e é até injusto dizê-lo: temos esgotos e etars, temos recolha de lixo e reciclagem, temos limites para a poluição, temos leis para proteger fauna e flora, temos áreas protegidas, temos organizações ambientais, temos mais consciência ambiental, temos cada vez mais pessoas formadas e a trabalhar nesta área, etc, etc…

São passos curtos? Mas custaram muito a dar…

Porque a educação, a saúde, as reformas, a polícia, a fome, o desemprego, etc, também reclamam a sua fatia de esforço e atenção. E é bom lembrar que não somos um país rico…

Pelo que se desengane quem julgue que é uma simples questão de vontade… Essa vontade implica escolhas com custos e o dinheiro não dá — nunca dá — para tudo: ao ir para uns lados, vai faltar noutros.

É a vida das pessoas e as necessidades suas, de seus filhos, de seus concidadãos, que estão em causa.

O mundo não é a preto e verde.