“Cada palmo de terra era um dia de miséria, assistência inexistente, salários baixos, alojamento do pior”
(Aquilino Ribeiro, 1958, Quando os Lobos Uivam)

Ouvimos frequentemente, a respeito dos ativistas climáticos que a sua causa é… “justa”. Será mesmo? E que diferença faz isso?

Do muito que se fala sobre Alterações Climáticas, nasce a vontade de fazer algo a respeito. Ora fazer algo é… política, que Maquiavel definia como “a arte de conquistar, manter e exercer o poder, o governo”.

Vivemos numa democracia. Do grego antigo, o governo do povo por via do voto. Pelo que, neste sistema, não é à força, pelo medo do terrorismo ou por imposição, mesmo que da justiça, que se alcançam os fins, mas sim pelos meios que a democracia põe ao serviço de cada um. Se um grupo pretende atingir um fim, propõe-se politicamente a tal e convence os eleitores a aderir à proposta.

Contudo, há quem não esteja convencido. No recente julgamento de ativistas da Climáximo, esteve bem o juiz ao não deixar invocar razões: “Não é preciso fazer uma declaração sobre a motivação, porque o tribunal sabe que tem a ver com questões climáticas”. Porque por mais justa que seja a finalidade, não vale tudo em democracia!

Mas a democracia é um empecilho para extremistas, e há muito que teóricos da esquerda radical opinam contra ela, atribuindo falsamente a Maquiavel a expressão de que os fins justificam os meios, numa adulteração da frase original e contrária do poeta romano Ovídio: “O fim não justifica os meios”.

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Quando muitos jornalistas ou políticos populistas defendem a justeza da causa, estão a concordar que se não vai a bem vai a mal? Que devem seguir a escola de pensamento político onde floresceram e avançar nem que seja à bomba?

Estando conversados sobre os meios injustificados, vale agora a pena falar sobre a tal justeza da causa. Até porque o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos deu razão às Avós do Clima.

As Avós do Clima são um grupo de mulheres suíças idosas que resolveu protestar contra o governo por este não as proteger contra os efeitos das Alterações Climáticas, que segundo a Climáximo são consequência desse cancro planetário, o capitalismo. Acham que isto agora está tudo muito mal e que bom, saudável, confortável, era o tempo da sua juventude que recordam como o romance de Johanna Spyri: as aventuras de Heidi na bela natureza das montanhas alpinas.

Vale a pena lembrar o contexto em que a obra foi escrito: a história começa com a tia Dete a levar Heidi, de 5 anos, para a casa de seu carrancudo avô paterno que vive isolado nas montanhas, porque ia trabalhar como criada em Frankfurt. Como muitos trabalhadores e camponeses suíços daquela época, a tia teve que emigrar em busca de um futuro melhor, porque a pobreza, a fome e as condições desumanas de trabalho eram comuns na Suíça do século XIX, agravadas pelas pragas que muitos estragos causaram pela Europa nas colheitas de batatas e que levaram cerca de 350 mil suíços a emigrar na segunda metade do séc. XIX.

E é esta a grande ilusão. É isto que dificulta deixar para a política o que é da política. É isto que impede discutir prós e contras…

Porque que há contras, todos o sabemos. E mais ondas de calor, mais cheias, mais secas, mais furacões, etc., etc. são algo que certamente ninguém deseja. A natureza pode destruir vidas.

Todavia, também há proveitos: sem o capitalismo, o lucro que leva à inovação, e os terríveis combustíveis fósseis, a natureza destruía muito mais. No “antes é que era bom”, a maioria era pobre, passava fome, não tinha educação, morria na meia idade, muitas crianças morriam à nascença, os efeitos das secas, ondas de calor, furacões, etc. – sim, porque também existiam – eram muito mais adversos.

Qualquer pessoa que se dê ao trabalho de olhar a estatísticas das últimas décadas – servem as da própria ONU, como as referidas nos gráficos do Our World in Data – e nos mais diversos parâmetros da saúde e qualidade de vida que as Avós do Clima reclamam, percebe que ao contrário da percepção generalizada, as coisas vêm a melhorar, não a piorar. Assim, justo não são imposições cegas – não é assim que se resolvem assuntos complexos –, justo é discutir prós e contras de políticas exequíveis, para não matar os doentes com a cura.

Pelo que, nisto dos meios serem justificados pela finalidade e esta ser justa, como o apóstolo Tiago nos ensinou, de uma fonte impura não pode jorrar água pura.