Acredito no diálogo social como forma de esbater diferenças, obrigar a negociar para obter consensos, minimizar a estratificação e rigidez social, e enquanto fator de estabilidade e desenvolvimento das sociedades.

A Alemanha, o Japão, os Países Baixos, ou os Estados Escandinavos, são o modelo do que a predisposição para ouvir o outro, para construir em conjunto, para adotar modelos de cogestão nas médias e grandes empresas, consegue fazer pelo desenvolvimento económico e social de um país. O modelo do que é possível fazer pelo robustecimento da classe média.

Em Portugal, há várias décadas que adotámos a cosmética do modelo, mas numa construção em que os vencedores do PREC, e os acobardados por ele, se conjuraram para obterem o seu quinhão de subvenção estatal, os seus momentos de notoriedade e uma pseudo-representação. Numa lógica de dialética leninista, em que uns fazem de idiotas úteis dos outros.

Porém, apesar de sucessivos alargamentos do plenário do Conselho Económico e Social (CES) ou de um decreto-lei inconstitucional que prevê explicitamente quem representa os trabalhadores, continuam ausentes os sindicatos independentes, os sectores mais dinâmicos e modernos da economia portuguesa, ou as profissões mais qualificadas. Talvez por isso, quem tem verdadeira representação laboral não assina pseudo-acordos de rendimentos, daqueles que servem apenas para anunciar ao país num domingo, arrancados a ferros com a assinatura de um qualquer decadente líder de uma pouco representativa associação patronal.

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Não admira que numa abordagem tão minimalista, tão desprovida de raciocínio e visão prospetiva, Portugal seja a economia dos biscates, do turismo pouco qualificado que degrada a paisagem, perturba a vida dos residentes e os expulsa das suas casas. A economia dos salários médios baixos, muito baixos, engolidos pela demagogia dos salários mínimos. Onde os jovens, e os não tão jovens, emigram de forma massiva.

O novel presidente do CES, Luís Pais Antunes, tem uma palavra a dizer. Assim como os partidos com representação parlamentar não enfeudados numa lógica de empobrecimento.

Terá o CES a preocupação com a qualificação da economia e dos seus trabalhadores? Com o fortalecimento da capitalização das empresas de base industrial? Com os sectores de conhecimento intensivo? Com os sindicatos independentes? Com os interesses dos portugueses? Ou vai continuar a ser o alforje dos interesses corporativos e sindicais caducos que nos conduziram, novamente, à cauda da Europa?

50 anos depois do 25 de abril, o CES continua a ser uma construção marxista-leninista que nos amarrou a valores e interesses que não são os dos portugueses. Até quando?