A sociedade actual tem caminhado para uma bipolarização, sobretudo nos debates políticos. Como se o mundo fosse a preto e branco, como se tudo se dividisse entre bons e maus e, mesmo olhando apenas ao eixo político-social “esquerda-direita”, como se houvesse apenas pontos estáticos e extremos impossíveis de se relacionar. Se há coisa mesmo transversal nesses extremos é o sectarismo. E lá andam, não felizes e contentes, mas aziados e irritados, a escavar trincheiras e nem o 25 de Abril passa incólume.
Nem o 25 de Abril, nem o 25 de Novembro. Duas datas de enorme relevância histórica que simbolizam a Liberdade e a Democracia. Se hoje podemos afirmar – não obstante ainda haver muito para melhorar – que vivemos em Democracia, a essas datas se deve. Numa se iniciou e noutra se solidificou a Liberdade. 47 anos depois, muitas pessoas ainda não perceberam como alcançámos a Liberdade. Elevar as duas datas é fazer justiça e clarificar a política.
É por isso extremamente irritante ver alguns a criticar quem celebra essas datas. E é muito preocupante que tentem mitigar o papel dessas efemérides, com argumentos de pseudo-autoridade intelectual. E é profundamente triste que alguns se proclamem proprietários, não apenas de qualquer data fundadora de um país genuinamente democrático, mas sobretudo de um valor que é de todos e para todos, a Liberdade. Talvez mesmo o valor supremo. Um valor que não tem donos.
Alguns pretendem apropriar-se do 25 de Abril, como se fosse uma data que lhes pertencesse em exclusivo. Isso deve-se a duas razões. Há os que se acham mesmo “donos da Liberdade”, mas também não ficam isentos de culpa os muitos que, por ausência, permitiram que os primeiros fossem ocupando o espaço quase num cenário de monopólio. Como se diz nas competições desportivas, perderam por falta de comparência.
Se a esses ausentes fazia confusão que não fosse dado relevo ao outro 25, o de Novembro, a pergunta que importa agora fazer é esta: afinal o que fizeram para promover e celebrar tal data?
Em 2018 um grupo de cidadãos decidiu que este círculo vicioso devia terminar, pondo fim a monolitismos e monopólios. A Liberdade é para ser celebrada de forma historicamente adequada, em todos os meses de Abril e de Novembro de cada ano.
Foi por isso que a Iniciativa Liberal comemorou a Liberdade logo em 2018, quando foi constituída como partido político. A 25 de Abril participou no desfile popular na Avenida da Liberdade, em Lisboa, e a 25 de Novembro organizou a Festa da Liberdade, no Jardim da Cordoaria, no Porto. Em 2019 repetiu a celebração. A 25 de Abril voltou a participar no desfile e a 25 de Novembro voltou a organizar a Festa da Liberdade, desta feita na Fábrica da Pólvora, em Oeiras.
Chegados a 2021, depois de 15 períodos de Estado de Emergência em que as liberdades individuais foram fortemente colocadas em causa, mais do que nunca a Liberdade deve ser celebrada, naturalmente num exercício de responsabilidade e sem excluir ninguém. Começando já neste 25 de Abril, enquanto data fundadora da fundação da Liberdade em Portugal, e a 25 de Novembro, na terceira edição da Festa da Liberdade.
Infelizmente alguns discordam.
Discordam os que se acham donos da Liberdade, presos no seu dogmatismo, não percebendo que em 1974 os Portugueses desejaram um país livre, justo e democrático. Mas também não concordam alguns que, tendo perdido sempre este combate por falta de comparência, permitiram que outros se assumissem como ilegítimos proprietários da Liberdade. São cobardes em Abril e sempre foram preguiçosos em Novembro.
Não basta ficar no conforto de salões em tertúlias ou no resguardo de um teclado a dedilhar palavras de ordem para combater os inimigos da Liberdade. Faz parte, mas não é suficiente. A Liberdade merece mais. Merece que a moderação derrote o sectarismo. Merece que a coragem derrote o medo. O medo do qual o sectarismo é apenas um sintoma.
Quem está firme nas suas convicções e tem a capacidade de conviver com a diferença, não tem medo e mais facilmente conseguirá defender e promover a Liberdade. Pode até fazê-lo em salões ou a teclar, mas sem nunca deixar de o fazer também na rua. Quer em Abril, quer em Novembro.
Só assim, com coragem cívica, se combate e derrota os intolerantes e os cobardes, estejam eles à esquerda e à direita. Da parte da Iniciativa Liberal não se recebe lições de moral ou de cidadania. Nem de uns nem de outros.