Raramente assistimos a momentos de tanta incerteza… admito até que quando em Estratégia há um par de anos falávamos num mundo VUCA (Volátil, Incerto [Uncertainty], Complexo e Ambíguo) não estávamos a pensar em três anos de pandemia, com confinamentos sucessivos, reorganização (ou desorganização) de cadeias de abastecimento, uma guerra na Europa, taxas de inflação e de juro a aumentar como os mais jovens não se lembram e, não querendo parecer pessimista, com muito poucos sinais de abrandamento.

Por isso, dei por mim há uns dias numa discussão sobre se valia a pena planear e definir estratégias quando os pressupostos mudam mais depressa do que a nossa capacidade (e imaginação) para os formular.

A questão é que estes tempos de elevada incerteza exigem novas formas de formular estratégias e de as executar – mais ágeis e mais flexíveis.

Vale a pena fazer previsões?

Sim, tanto quanto possível. Quanto mais previrmos o que será o cenário no futuro, mais próximo estaremos da realidade.

E não podemos esquecer que, apesar de incerteza significar risco e (eventualmente) possibilidade de perdas, o facto de nos prepararmos com previsões adequadas pode ajudar-nos a identificar oportunidades e possibilidade de expandir além dos limites de negócio atuais. Este exercício exige contudo uma nova mentalidade de gestão dos líderes e uma mudança de perspetiva. Já não é só “business as usual”.

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Há que olhar menos para o que a empresa pode fazer com o que tem e pensá-la sobre o que pode fazer com o que ainda não tem; e trabalhar para ganhar os recursos e as competências que permitam lá chegar.

Mais do que nunca, a estratégia da empresa tem de ser flexível. Não podemos ter “Planeamentos Estratégicos” para 3, 5 ou 10 anos e considerar que se vão cumprir. O que sabemos nós (que previsões conseguimos fazer) do cenário dentro de 10 anos? Para 1 ou 2 anos podemos ter uma razoável perceção. Mas só isso. Por isso, e cada vez mais, a agilidade e flexibilidade das empresas (também) na sua definição estratégica é muito importante.

Como repensar a estratégia?

O primeiro passo da estratégia passará sempre por formular para onde queremos ir. E, se até há pouco tempo, com ambientes mais estabilizados, tornava-se menos complexo responder à questão de para onde queremos ir, o objetivo ainda assim tem de ser definido, mas sempre com a flexibilidade necessária na forma como será alcançado. Podemos definir, por exemplo, que queremos alcançar determinada quota de mercado, mas temos de nos manter flexíveis na forma como lá chegamos. Sem definir antecipadamente como vamos lá chegar, ganhamos (a organização como um todo ganha) o conhecimento e experiência de todo um caminho. Esta maior flexibilidade (que já era desejável antes) e que agora se torna imprescindível é o que permite às empresas prosperarem num mercado altamente volátil.

Estratégia sem esquecer o Cliente

Ao elaborar a estratégia, é fundamental ter uma visão rigorosa do cliente. Uma Estratégia que não tenha o foco claro no cliente terá dificilmente espaço para o sucesso – qual o mercado? Quem são os clientes? Que necessidades queremos satisfazer? São questões incontornáveis como primeiro passo da Estratégia (agora ou em qualquer altura).

Estudar o cliente, sempre fora do conforto de uma sala de reuniões ou de um gabinete, mas em contacto com toda a organização, sempre com o foco no cliente e incorporando os pontos de vista e necessidades deste. Há que ajustar o que somos para responder ao cliente e readaptarmo-nos em contínuo.

E não me venham com a história do Jobs (iPhone) ou do Henry Ford (Ford Motor): “Se eu tivesse perguntado às pessoas o que queriam, dir-me-iam cavalos mais rápidos!”. Claramente a questão estava mal feita. O que o cliente queria era velocidade e conseguia-o com carros de motor de combustão.

Dividir para reinar

Uma vez definido o objetivo, dividi-lo em pequenos problemas a serem resolvidos, permite controlar o todo. Objetivos mais pequenos tornam-se mais facilmente “geríveis” – permite delegar objetivos e responsabilidades, controlar a evolução dos mesmos e incorporar a flexibilidade de que falei anteriormente.

Permite também incorporar mais facilmente o retorno de informação que vamos tendo do cliente, permite escolher a cada momento e face a cada novo enquadramento, ajustar de forma mais eficiente.

Um barco sem estratégia sabemos do porto de onde sai, mas não saberemos nunca onde chega. Quanto mais revoltas forem as águas, mais necessário é ter a estratégia bem delineada. Dado o turbilhão dos mares, há que ser muito flexível com as velas para ir ajustando a rota conforme sopra o vento.