No Livro “Inteligência Artificial 2041 – Dez Visões para o Nosso Futuro” do Dr. Lee que foi presidente da Google na China, há uma tabela muito clara sobre as diferenças entre a IA e os humanos. Nós precisamos de pouco dados para, em parte através da intuição, chegarmos a conclusões relativamente fortes, mas não perfeitas. Por contraste, a IA requere um número de dados gigantesco, mas chega a conclusões mais próximas da perfeição.  Em português corrente, os humanos são mais desenrascados.  Os humanos são também, regra geral, mais criativos que a IA, com capacidade para pensamentos originais, lidar com ambiguidade e balancear realidades opostas.  Neste artigo falamos de uma enorme exceção à regra da criatividade na humanidade que são muitos dos comentadores políticos portugueses.

Vindos da América, passamos o mês de Agosto de férias em Portugal e entre mergulhos, lemos ou ouvimos uma amostra suficiente de dados dos comentadores omnipresentes nos jornais, revistas e canais de TV lusitanos. Sobre qualquer tópico que fosse, intuímos rapidamente que nos bastava ter lido apenas um dos muitos comentadores de extrema-esquerda num jornal semanal, supostamente de centro-esquerda, para saber logo o que todos os outros repetiriam. Por exemplo, um supostamente comentador de direita num jornal diário supostamente centrista, ou outro alegado intelectual de direita numa revista semanal alegadamente de direita iriam dizer e recomendar exactamente o mesmo.  No comentário televisivo e radiofónico seguia também a mesma batuta monótona.

Tirando vários comentadores no Observador e pouco mais, chegamos à conclusão forte de que, da esquerda à direita, quase todos os principais e mais divulgados comentadores lusos têm a mesma opinião e recomendação idêntica sobre temas tão distintos como jogos olímpicos franceses, eleições americanas, bilionários americanos, guerras atuais, energia, emigração, inflação, impostos ou peso do Estado social, dádivas do Estado e quem as paga, etc.

Nos EUA gostamos de alternar leituras entre o Washington Post e o Wall Street Journal ou entre os canais televisivos da esquerda e direita para perceber que a realidade fica algures no meio do que uns e outros nos querem contar ou impingir simplificadamente. Já aqui em Portugal essa alternância é quase impossível em jornais tradicionais. Como já Aristóteles dizia há 2500 anos há uma média dourada para tudo e a virtude nunca está nos extremos. Ora em Portugal na imprensa quase toda só há uma realidade: a da esquerda extremada, ensimesmada, censuradora e alienada da realidade e resultados.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A ausência de contraditório na imprensa portuguesa sufoca mais e é mais assustadora do que quando rolamos dentro de uma onda nas Azenhas do Mar por mais alguns segundos do que estávamos a contar.  É asfixiante do pensamento a falta de ar na maioria dos comentadores lusos. Sem ar nem frescura não podemos ser criativos nem resolver problemas eficientemente. Intelectualmente definhamos, caímos em rotinas improdutivas inquestionadas e nada criativas.  Tais comentadores contagiam a sociedade com a sua mediocridade e falta de originalidade.  Pior ainda, fecham o debate na sociedade insultando em conjunto e caindo em cima de quem ousar pensar diferente ou propuser soluções alternativas. Imobilizam a sociedade mentalmente impedindo soluções inovadoras eficazes para os problemas da sociedade portuguesa.

Em geral os comentadores políticos lusitanos continuam a promover os políticos mais incompetentes e mais à esquerda, mas mais sorridentes. Agora tal como no passado promoveram Costa em vez de Seguro, Sócrates em vez de Ferreira Leite, etc. Regra geral promoveram também sempre um cada vez maior e mais despesista Estado, com os correspondentes impostos cada vez mais altos e consequentes baixos salários e alta emigração dos mais qualificados.  Nunca há inversão da marcha de sempre que nos trouxe até aqui. Há um expresso do pensamento difundido para o público sempre com o mesmo destino. Não discutem nem exploram novos caminhos.

Na mesma linha, sobre temas internacionais, os nossos comentadores repetem uma simples tradução de uma fatia pouco representativa de jornais e opinião enviesada e seletiva importada do estrangeiro, sem conhecerem a realidade local nem o pensamento da maioria das pessoas locais. Não sabem que em qualquer patuscada nos clubes portugueses de New Bedford, MA, Cumberland, RI ou Newark, NJ aprende-se muito mais do que em notícias enviesadas sobre o quão vibrante, diversa e complexa é a América, e quais são as verdadeiras preocupações e considerações da sua população.  Nunca estiveram em reuniões de associações de pais nas escolas de cidades americanas com bons distritos escolares, para verem como prima a exigência de resultados e o foco na ciência, nem em reuniões de associações americanas de moradores, para verem como os americanos exigem que as suas casas não se desvalorizem nem as suas vizinhanças se tornem inseguras por más decisões políticas. Os comentadores portugueses podem admitir muito descalabro dos políticos desde que eles sorriam e falem simpaticamente, os americanos preocupam-se bastante mais com os resultados e ações do que com as palavras.

No entanto, arrogantemente, tais comentadores políticos portugueses recomendam ufanos e em uníssono — sem qualquer humildade nem mea culpa, ou autointrospecção sobre a realidade nacional que tanto sublimam — a exportação para outros países da mesma receita ideológica, económica e de políticos que têm ajudado a implementar e manter em Portugal há décadas. Só sabem que sabem tudo e tudo o que sabem é sempre igual entre todos sem nada questionarem.

De volta aos EUA, concluímos que demos muito desse nosso tempo de leitura jornalística lusitana fora de mergulhos e da confraternização com amigos e família por mal empregue. Na realidade compramos esses jornais e revistas sobretudo para estar a par de datas de concertos e festas veranis por todo o Portugal, mas infelizmente nas secções de opinião confirmamos o que já há muito notamos e tememos no comentário político lusitano que excomunga quem criativamente apresentar soluções diferentes das habituais ou der uma visão mais alargada e informada dos assuntos, apresentando dois pontos de vista distintos, sabendo lidar e navegar paradoxos.

Ora quanto mais intuitivo e criativo forem os humanos mais protegidos estão de serem substituídos pela IA. Juntos os humanos e a IA podem ser aliados imbatíveis no universo se a IA passar a fazer a maioria das tarefas monótonas e previsíveis de forma perfeita, aumentando o tempo para os humanos poderem exercer a sua capacidade natural para a intuição e criatividade noutras tarefas.

Parece-nos, portanto, que podemos dispensar um conjunto tão previsível de comentadores lusos tão parecidos entre eles pois qualquer IA básica os pode substituir emitindo sempre a mesma opinião nada criativa e sempre repetitiva uns dos outros e ao longo de muitas décadas.  Não nos assusta nada a introdução da AI neste campo lusitano pois nada de orwelliano poderia ser pior que a realidade monótona e sufocante que já temos no nosso comentário-político económico há décadas sem fim.

Para terminarmos com um registo patriótico mais alegre e menos sombrio, confessamos que houve uma parte das nossas leituras e audições nas férias portuguesas que foi mais reconfortante e entusiasmante. Não falamos só dos muitos artistas da pop portuguesa e anglo-saxónica que vimos em palcos onde felizmente na maioria abunda a criatividade; aí até os músicos pimba têm mais originalidade e humor que qualquer dos nossos comentadores políticos que se levam tão a sério na sua previsibilidade.

Constatamos sobretudo que ao contrário dos comentadores políticos, os comentadores futebolistas portugueses seriam mais dificilmente substituídos pela IA pois são muito mais criativos, diversos de pensamento e com mais intuição, capazes de chegar a conclusões relativamente fortes sobre o campeonato nacional com poucos dados, ou seja poucas jornadas ainda de amostra. Não há IA que os bata. A IA provavelmente iria reunir todos os dados dos jogos e títulos portugueses dos últimos 100 anos e chegaria a uma conclusão mais provável e perfeita no longo termo, mas menos adequada ou intuitiva para o campeonato deste ano em concreto e em curso.

Impressionou-nos particularmente que mesmo os comentadores adeptos confessados de um clube concluíram fortemente que um outro clube vai num melhor caminho este ano.  Pareceu-nos haver naquele tipo de comentário em geral um maior rigor e capacidade de ver os dois lados, o nosso e o de outros.  Poucos ali defendem manter ou promover jogadores ou treinadores incompetentes, mas sorridentes. Se sorrirem e forem simpáticos tanto melhor, mas o importante são os resultados.  Poucos aí defendem que se ataque sempre pelo lado esquerdo, sobretudo se está sempre a perder por esse lado. Poucos apoiam um marcador de penáltis que atire sempre para o lado esquerdo e da mesma maneira, previsivelmente e nunca marcando penaltis.

Talvez em parte devido a esse paradoxal maior grau de exigência criativa e intuitiva dos comentadores desportivos, o nosso futebol e profissionais de futebol atinjam resultados internacionais muitíssimo superiores aos da nossa economia e políticos. Seria, portanto, provavelmente positivo se tivéssemos também muitos mais verdadeiros comentadores intuitivos e criativos na nossa política e economia, e menos tantos papagaios de pensamento igual e previsível à esquerda, logo substituíveis por IA.