Gosto muito dos meus formandos. Anima-me ver as questões que colocam, os objetivos que alcançam. Apesar de, por vezes, ter de assumir uma postura mais crítica e de repreensão, tudo é feito com estima e na tentativa de que compreendam as consequências dos seus atos. Interessa-me, acima de tudo, e mesmo na confusão da algazarra da sala de formação, que eles interpretem os conteúdos para lá do teórico e os seus comportamentos para serem melhores cidadãos.

Contudo, apesar de as escolas serem feitas para servir os alunos e os formandos, existem professores e formadores que se esquecem desse facto. Isto não invalida, de maneira alguma, que os “nossos” meninos têm de respeitar regras de convivência mínimas de modo a se entenderem e a conseguirem respeitar todos os intervenientes com os quais interagem no seu dia a dia, desde outros colegas, funcionários, coordenadores, psicólogos, entre outros. São essas mesmas normas e sanções associadas que lhes permitem atingir metas, perceber as matérias, e levá-las para os seus cursos e empregos futuros de maneira a que façam sentido e possam ser úteis.

Mas, no meio dessa aprendizagem, há espaço também para as relações humanas. Nenhum de nós, formadores e professores, atua num vazio existencial e somos inumes aos sentimentos daqueles com quem estamos semanal ou diariamente. Eles são parte das nossas vivências e com eles conseguimos atualizar as nossas experiências e perspetivas sobre a sociedade e o mundo. Isto é tão importante que até nos lembramos de quem éramos na idade daqueles miúdos: o que dizíamos, sentíamos, fazíamos ou não fazíamos.

Essa nostalgia não pode ser atropelada pelo autoritarismo. Há muitos docentes e formadores que pretendem fazer esquecer que já foram jovens e que também tiveram o seu tempo para perceber como funcionava a realidade. No meio dessa descoberta caíram e levantaram-se até chegarem à posição que ocupam hoje em dia. Por isso, sendo a educação um processo de questionamento do mundo, mas também de amor pelas pessoas e pelo próprio mundo, é essencial que essas memórias não sejam branqueadas ou esvaziadas – até porque são elas que irão permitir recuperar soluções passadas e adaptá-las aos desafios da atualidade.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR