Quando, no dia 7 de Setembro de 2020, a propósito da antevisão do jogo com a Suécia, Fernando Santos foi questionado se Portugal poderia ser mais forte sem Cristiano Ronaldo, prontamente respondeu que “nenhuma equipa pode ser melhor quando o melhor jogador não está”. Pois bem, a presente época do Sporting parece demonstrar que o nosso seleccionador pode não estar absolutamente certo.

Rúben Amorim fez uma verdadeira revolução no plantel do Sporting, substituindo talento comprovado por ambição renovada. O risco assumido na identificação e recrutamento de jogadores de futebol ficou patente na entrada de dois desconhecidos da formação (Nuno Mendes e Tiago Tomás) para os lugares dos jogadores internacionais argentino (Acuña) e holandês (Bas Dost); Mathieu, ex-jogador do Barcelona e internacional francês, foi substituído por um desconhecido Feddal; Wendel, talvez dos mais valiosos jogadores do Sporting, foi substituído por um ex-emprestado (João Palhinha); João Mário entrou para o lugar do insubstituível Bruno Fernandes (que tinha ficado inclusive com o seu lugar na selecção); um jogador do Rio Ave e outro do Famalicão (Nuno Santos e Pedro Gonçalves) vieram substituir um dos melhores jogadores da época anterior (Raphinha) e dois ex-talentos do Real Madrid e Atlético Madrid (Jesé e Vietto).

Com a obtenção de sucesso desportivo, Rúben Amorim demonstrou que a qualidade individual dos jogadores per si, quando somada, pode não só ser distinta, como inferior ao seu todo. Esta capacidade de potenciar o colectivo para lá dos limites do individual, está muito relacionada com o momento de vida dos jogadores e a sua predisposição psicológica e, obviamente, com o perfil de liderança do treinador. Recrutando jogadores não apenas pelo seu talento individual, mas também pela sua dimensão humana, fez com que a liderança do treinador do Sporting mantivesse todos os jogadores ligados à equipa e à sua visão, e com índices de satisfação elevados, mesmo no caso dos que jogavam menos. Cada jogador tinha um papel importante a desempenhar, de acordo com as suas valências e características. É quando individualidades, mesmo de menor dimensão, encaixam melhor entre si e no treinador, que o todo é potenciado.

Quando consideramos a literatura existente, identificamos  quatro características em Rúben Amorim que a ciência demonstra aumentar a performance das equipas: (i) Rúben Amorim é um treinador carismático. Isto ficou plasmado ao longo de todo a época, com particular incidência nas conferências de imprensa. Está comprovado que os lideres carismáticos melhoram a performance das equipas através do encorajamento, aconselhamento e recompensa. Eles incentivam os seus jogadores a trabalhar arduamente, reforçam a moral da equipa, criam uma atmosfera de confiança e facilitam o entusiasmo; (ii) Rúben Amorim é inspirador. O treinador do Sporting foi sendo capaz, ao longo da época, de motivar os seus jogadores através de palestras inspiracionais e reptos emocionais. Isto permite aumentar a coesão e eficiência dos jogadores e, por conseguinte, aumentar a performance da equipa. Esta capacidade do treinador de conferir significado ao trabalho dos jogadores influencia a energia que estes alocam na persecução da visão do líder para a equipa; (iii) Rúben Amorim estimulou intelectualmente os seus jogadores. O novo sistema de jogo de 3:4:3 que implementou no Sporting em particular, e em Portugal em geral, não só encorajou a criatividade dos seus jogadores, como também provocou as suas ideias pré-concebidas de padrões de jogo. Está comprovado cientificamente que a estimulação intelectual dos jogadores promove o aumento da performance da equipa; (iv) Rúben Amorim considerou a individualidade de cada jogador. Esta característica do treinador em preocupar-se e procurar responder às necessidades particulares, específicas e individuais de cada jogador permitiu-lhe quebrar com as tradicionais formas de comunicação e influenciar positivamente a satisfação do jogador no clube bem como o rendimento da equipa.

Obviamente, que as vitórias reforçam tudo isto, mas é importante não confundirmos as causas com as consequências. Continuarmos a conceptualizar as ciências do comportamento humano como uma blackbox, assente na inspiração de uns e talento divino de outros, é reforçarmos a nossa existência na mediocridade.

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