Conseguiram finalmente, camaradas. Cuba, bastião e referência do comunismo, pediu recentemente à ONU ajuda alimentar. Pediram leite em pó para bebés e crianças, especificamente.

Antes de começar a conversa de que a culpa é do embargo Americano, alguns factos. Cuba tem de facto restrições comerciais com os EUA, mas não com o mundo. O país tem relações políticas e comerciais com vários países, incluindo Portugal, embora o volume e o tipo de comércio tenham limitações. Alguns dos principais parceiros comerciais dos Cubanos incluem Venezuela, China, Espanha, Canadá e Rússia.

Cuba exporta principalmente commodities como níquel, tabaco, açúcar e produtos farmacêuticos. Sectores como o turismo e as exportações médicas (a famosa exportação de médicos), são igualmente fontes de receita. No que respeita a importações, Cuba importa alimentos, combustível, máquinas e um pouco de tudo o mais.

Historicamente, não estão sozinhos e foram ajudados desde os anos 60 do séc. passado pela União Soviética, depois de Che Guevara ter terraplanado a economia cubana.

Che, esse grande amigo de Fidel Castro. Juntos conseguiram lançar as bases para a criação de uma das maiores prisões a céu aberto e condenar milhões de pessoas à miséria ou emigração forçada. Guerrilheiro, ministro da economia cubana, ícone. O homem que converteu Fidel da direita nacionalista para a extrema esquerda fuziladora da oposição, tudo em nome da revolução, claro. O seu legado económico são as nacionalizações em massa e a abolição de todos os incentivos ao trabalho. Os resultados falam por si.

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Se a culpa da sua ascensão é, em boa parte, americana, os danos da sua governação só a si e a Fidel dizem respeito. Che, o homem cuja imagem de libertário figura um pouco por todo o mundo, mas que, por ódio aos Estados Unidos, quis o seu país (Argentina, para os mais esquecidos) alinhado com a Alemanha Nazi. O mesmo Che que enquanto fervoroso homofóbico defendeu o machismo, figura hoje nas t-shirts de pessoas que se dizem progressistas. Acredito que defendam o progresso, mas quem não ouve a história está condenado a repeti-la, mais tarde ou mais cedo.

O Che que queria colonizar o Congo ou a Bolívia, mas em vez de colonização lhe chamava “cubanização”. O médico aristocrata com profunda vergonha pessoal e desprezo pela liberdade e pela vida humana, como se pode atestar pela reinstituição imediata da pena de morte e os fuzilamentos em massa na ilha de Cuba.

O mesmo que, quando surpreendido por os trabalhadores cubanos terem deixado de produzir sem incentivo, virou-se contra o próprio povo. Todos passaram a ser inimigos da revolução. Não eram as suas ideias que estavam erradas, pois afinal Che não errava e a “ditadura do proletariado” é só mesmo isso, uma ditadura.

Em Cuba, o ministro Che, optou pelo planeamento centralizado da economia. A mesma ideia de uma economia planeada centralmente, onde o Estado controla a grande maioria do capital, tal como defendem o PCP ou o BE para Portugal. Esta abordagem, na verdade, não resultou em nada mais que uma ineficiência total, pois a tomada de decisões não respondia às demandas do mercado. O planeamento centralizado inibiu a inovação e dificultou a capacidade de adaptação a um mercado cada vez mais global. A má alocação de recursos, sem base no mercado mas sim nos devaneios dos legisladores, com bens e serviços produzidos sem correspondência à demanda do consumidor, fez o que faltava. O resultado foi a  escassez, a inflação em flecha e o declínio abrupto nos padrões de qualidade vida do povo.

Sob o regime comunista de Fidel, os incentivos à criação e produção económica por indivíduos ou empresas foi retirado. Sem a perspectiva de ganho pessoal e/ou familiar, o declínio económico ao longo do tempo mostrou-se inevitável.

A estatização da maior parte da indústria e empresas obliterou o espaço para a iniciativa privada, levando à morte da concorrência económica. As mesmas empresas estatais sofreram depois com ineficiências burocráticas, com a ausência de responsabilização dos seus quadros e com a má gestão.

O sector agrícola Cubano, que foi colectivizado tal como se tentou fazer no PREC em Portugal, foi totalmente arrasado levando a escassez de alimentos e dependência de importações alimentares que agora culminam no pedido de leite em pó para alimentar os bebés cubanos.

No final do dia, o planeamento centralizado, a falta de incentivos, o excesso de propriedade estatal, a dependência de subsídios e ajudas externas, a má alocação de recursos e a ineficiência levaram ao colapso económico Cubano. O resultado de décadas de comunismo é hoje a estagnação económica, a falta de liberdades civis e políticas e o permanente abuso dos direitos humanos.

O maior problema de condicionar populações inteiras a experiências sociais como a em curso na ilha de Cuba é que a realidade bate à porta e quem sofre na pele são as populações. A realidade é que, quando os seres humanos se juntam em grupos maiores, as sociedades uniformes são simplesmente impossíveis.

É historicamente incontornável e foi-o também em todos os regimes comunistas. A título de exemplo, olhe-se a URSS, onde não faltavam diferenças sociais e hierarquias muito pronunciadas.

Nas sociedades humanas, a hierarquia e o poder emergem sempre, quer queiramos, quer não. O que interessa é o que fazemos com esta realidade e que mecanismos acionamos para proteger os mais fracos e indefesos, e para promover a diminuição da pobreza e exclusão através do elevador social.

A existência de hierarquia e poder não é necessariamente má, até porque uma sociedade uniforme é altamente limitante do potencial humano de inovação. Porém a existência de uma desigualdade brutal sim, é altamente nefasta à sociedade levando à ascensão de populismos e radicalismos. A mesma desigualdade assola hoje 72% da população Cubana que vive abaixo do limiar da pobreza, onde certamente não vivem os altos quadros políticos do regime comunista.

A hierarquia, essa, depende da sua utilização como factor de exploração ou de cooperação. Tal como o fogo, que cozinha, mas também queima.

Porque o comunismo cubano, não é só um problema político, mas uma negação da condição e natureza humanas. Uma doença da alma.