António Costa e Luís Montenegro ainda não são BFF (Best Friends Forever) — expressão introduzida na política por Paulo Portas em 2015 –, mas estão em “progressiva amizade”, conceito que o socialista criou de guayabera branca para classificar a relação com Marcelo no ano passado. Os amigos, diz a sabedoria popular, são para as ocasiões. E, neste caso, nota-se.

A mais recente prova de amizade política que António Costa deu a Montenegro foi a pressão que colocou em Pedro Nuno Santos para que deixe passar o próximo Orçamento do Estado para 2025. O ex-primeiro-ministro disse que o que é “normal” é a oposição “predispor-se a que o Orçamento possa ser viabilizado”. Mais do que isso: advertiu que essa normalidade só não deve ser desrespeitada se existir uma “medida absolutamente intolerável” para a oposição (leia-se, PS).

António Costa foi ainda mais explícito a defender a continuidade do Governo de Montenegro quando disse que “a última coisa de que o país precisa é de uma nova crise política” e que em Portugal não deve existir a “obsessão de estar sempre à procura da próxima eleição”.

Ora, o nomeado presidente do Conselho Europeu, não é um qualquer. É o senador dos senadores, ex-líder querido do PS e — com a morte de Soares e o exílio internacional de Guterres — é, sem necessidade de grande reflexão, a figura mais influente do partido. A pressão de Costa reduz, por isso, a margem negocial de Pedro Nuno Santos. Se os autarcas (pela voz da presidente da ANMP, Luísa Salgueiro) e outros protosenadores (como Augusto Santos Silva) já tinham pedido entendimentos, Costa veio dizer que a normalidade é a viabilização.

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Embora o líder do PS seja obstinado o suficiente para não seguir o que António Costa diz — e isso é talvez a razão do maior afastamento entre ambos –, a posição pública do ex-primeiro-ministro socialista diminui o espaço para uma solução de rebenta-a-bolha em outubro, em que Pedro Nuno reivindique o direito de votar contra. Até porque Costa definiu com as letras todas a única exceção admissível para esse anti-patriótico capricho: a tal medida “absolutamente intolerável”.

Ao pragmático António Costa dá-lhe jeito ter aliados no Conselho Europeu e Luís Montenegro está mesmo ali à mão. Esta não foi, aliás, a primeira vez que o socialista foi mais longe do que a cordialidade institucional exigia. A 1 de julho, quando almoçou em São Bento com Luís Montenegro, fez-lhe rasgados elogios e disse mesmo que o empenho que o primeiro-ministro mostrou para que chegasse a um alto cargo é uma “marca da qualidade da democracia portuguesa”. A maneira como apressou a passagem de pasta a Montenegro — recebendo-o em São Bento menos de 72 horas depois das eleições e quando ainda se contavam os votos da Europa — levou alguns que acompanharam esse processo a ficar com a ideia de que Costa preferia o primeiro-ministro Montenegro ao primeiro-ministro Pedro Nuno Santos.

Mesmo que a motivação de António Costa seja fazer o que mais lhe convém como presidente do Conselho Europeu, não deixa de existir um lesado direto da nova amizade no centrão: Pedro Nuno Santos. E, por oposição, um grande beneficiado: Luís Montenegro.

O primeiro-ministro, aliás, também tem sido recíproco nesta progressiva amizade. Apoiou Costa logo na própria noite eleitoral, chegou a dizer num debate quinzenal que António Costa era o “melhor socialista” para o cargo de presidente do Conselho Europeu e, após essa refeição em São Bento, prometeu total “colaboração e cooperação” ao novo presidente do Conselho Europeu. Montenegro também tem interesses no novo amigo: tem um interlocutor privilegiado na Europa e ainda o evita Costa como candidato do PS a primeiro-ministro ou a Belém. Não há, portanto, almoços grátis.

Na célebre intervenção dos “BFF” em 2015, Portas rotulou assim os líderes da geringonça, mas quando os referiu individualmente referiu apenas as duas primeiras siglas, como por exemplo: “António Costa best friend de Jerónimo”. Ou seja: ficou apenas “melhor amigo”. Neste caso, justifica-se a mesma prudência: “António Costa best friend de Luís Montenegro”. Porque forever, na política, não existe. Muito menos quando um dos protagonistas é António Costa. Pedro Nuno Santos que o diga.