A evolução dos cuidados de saúde, aliando a biologia à tecnologia, tem permitido ganhos incríveis para as populações. São exemplo disso as recentes investigações que permitiram a criação de vacinas como resposta à pandemia Covid-19 que têm vindo a demonstrar o seu sucesso. O conhecimento tem tido uma evolução exponencial e as mais recentes atualizações recomendam também a vacinação de mulheres grávidas após a realização da ecografia morfológica num esquema vacinal semelhante ao da população geral.

Parece que a gravidez, por si só, não aumenta a gravidade da Covid-19 e o risco das mulheres grávidas ficarem infetadas é semelhante ao da população em geral. Contudo, em Portugal, as mulheres engravidam cada vez mais tarde, ou seja, existe cada vez mais potencial para a existência de patologia crónica associada, nomeadamente Hipertensão Arterial e Diabetes mellitus. Por outro lado, independentemente da idade, os avanços da ciência permitem que mulheres com patologias crónicas, nomeadamente HIV e Obesidade, possam ter gestações bem-sucedidas.

São estas doenças crónicas que parecem estar associadas ao aumento do risco da Covid-19 e a abordagem multidisciplinar destas mulheres grávidas é essencial.

As informações são ainda muito reduzidas, mesmo assim, parece que podemos afirmar que a Covid-19 parece não aumentar o risco de malformações congénitas. À luz dos conhecimentos atuais, parece que existe uma associação entre a infeção Covid-19 e o aumento de parto pré-termo (antes das 37 semanas) e a rotura prematura de membranas (bolsa de águas).

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Apesar de tudo, e como na maioria das situações, os sintomas são geralmente ligeiros e, por norma, têm indicação apenas para isolamento domiciliário e controlo sintomático. No caso de desenvolver febre, a grávida pode tomar paracetamol. São sinais de alarme, a manutenção da febre mais do que 3 dias, o aparecimento de falta de ar ou o desenvolvimento de qualquer outra queixa suspeita – nessas situações a grávida deve ser observada com urgência. A eventual realização de exames radiográficos, nomeadamente radiografia de tórax ou TAC de tórax pode ser necessária e pode ser feita com as devidas precauções. O internamento pode ser indicado apesar da evolução para um quadro grave de Covid-19 ser raro, mas é importante que se prestem os melhores cuidados possíveis e a vigilância mais adequada quer sob o ponto de vista materno, quer sob o ponto de vista fetal. As formas mais ligeiras de Covid-19 não implicam necessariamente a antecipação do parto nem a realização de uma cesariana, exceto se existirem outros motivos.

Não há evidência que o leite materno transmita o vírus à criança, pelo que após o nascimento, mesmo em grávidas com Covid-19, a amamentação pode ser promovida com as devidas precauções.

A mensagem principal é prevenir a doença promovendo os melhores cuidados à mulher grávida. Deve ser promovido o distanciamento social, a lavagem e desinfeção frequente das mãos, adotar as melhores medidas de etiqueta respiratória e, se possível, ficar em teletrabalho.

Além da vacinação contra a Covid-19, todas as grávidas devem ser vacinadas contra a tosse convulsa entre as 20 e as 36 semanas, devendo as vacinas ser separadas pelo menos em 14 dias.

A Medicina Interna, enquanto especialidade integradora de várias disciplinas médicas, tem uma posição privilegiada para providenciar, em conjunto com a Obstétrica, o apoio médico necessário à otimização dos cuidados materno-fetais em mulheres com doenças crónicas ou problemas agudos do foro médico e articular a intervenção das outras especialidades. É exemplo disto, a avaliação e seguimento da hipertensão na gravidez e puerpério.

Dando corpo a um dos objetivos do milénio pela OMS, a Medicina Obstétrica no seio da Medicina Interna, tem como objetivo apoiar a Obstetrícia na orientação de grávidas com patologia, com vista ao controlo da saúde da mãe e ao melhor sucesso da gravidez.

A propósito do Dia da Grávida – que se celebrou este mês, a 9 de setembro – importa promover esta consciencialização global para os problemas da saúde da mulher grávida, investindo na literacia em saúde.

Estes e outros temas serão discutido nas 2.ª Jornadas do Núcleo de Estudos de Medicina Obstétrica, que decorrerão nos dias 15 e 16 de outubro, em formato híbrido (o programa pode ser consultado aqui).

As jornadas incluirão um webinar aberto a toda a população – Gravidez, vírus e outros problemas emergentes – com a participação do Prof. Doutor Pedro Simas (virologista, Director of Research – Católica Medical School) que estará à conversa com as especialistas em Medicina Interna, Dra. Ana Oliveira e Dra. Inês Felizardo, e a especialista em Obstetrícia, Dra. Ester Casal.