Vamos passar das palavras aos actos. Todos lemos o cartaz da AD, o cartaz onde Luis Montenegro tinha a seguinte palavra: UNIR. Após ganhar as eleições deveria fazê-lo. Mas nas respostas dadas aos jornalistas na noite da vitória eleitoral, mostrou vontade em liderar o Governo de Portugal, mas, quanto a mim não mostrou vontade em UNIR. Pelo contrário. Isolou um partido e as pessoas que nesse partido votaram. Ser primeiro-ministro de Portugal é ser primeiro-ministro de todos os portugueses, respeitando as diferenças e pugnando por um sentido de unidade, único de estadistas.

Luís Montenegro deve seguir – e acredito que o vai fazer – o bom exemplo das empresas, do mundo do desporto, das famílias e dos amigos.

Nas empresas, a unidade é essencial para a sua sobrevivência. As empresas são feitas de pessoas, todas elas diferentes, mas com um propósito comum, o de criar riqueza. Mas como em todos os grupos, também nas empresas existem pessoas que se dão melhor umas com as outras, e outras que nem se dão entre elas. Não se exige que sejam amigos, exige-se sim que contribuam com a sua vocação, os seus dons, o seu trabalho na criação de riqueza e que trabalhem com vista ao propósito da organização onde se encontram.

No desporto, no futebol por exemplo, temos desportistas, que não se dão entre eles quando os seus clubes entram em campo, mas que em prol de algo maior, como a Selecção Nacional, tudo fica para trás. Muitos lembrar-se-ão da rivalidade entre Paulinho Santos do Futebol Clube do Porto e do João Vieira Pinto do Benfica. Como rivais, dentro de campo até o maxilar de um foi partido pelo outro. Mas, quando jogavam os dois na equipa de todos nós, a rivalidade e a atitude de confronto eram colocados de lado, em prol de algo muito maior do que a sua animosidade.

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Nas famílias, muitos são os casais, que perdoam um ao outro as histórias cruzadas que muitas vezes vivem ou viveram, sendo que sacrificam a sua felicidade pessoal, enquanto marido ou mulher, em prol de um projecto comum, muitas vezes já esgotado, mas que consideram maior do que eles próprios e até do que a própria felicidade pessoal. Noutras famílias, muitos são os casais que não se entendem e que até se separam, buscando uma felicidade que já não a têm. Mas quando existem filhos, e quando os casais ou ex-casais se respeitam, independentemente dos motivos e razões da sua separação, existe uma causa maior, que os obriga a estar “unidos” na “gestão” do que é maior do que eles, os próprios descendentes e a felicidade de todos e de cada um no seu contexto individual.

Muitos irmãos se zangam, e até se deixam de falar, mas quando estão doentes ou a mãe ou o pai precisam, juntam-se para, por eles ou até pelo outro, fazerem o que tem de ser feito.

Existem amigos que deixaram de se encontrar, porque, por um motivo ou outro, a vida levo-os a afastarem-se, mas quando um sabe que o outro está mal, tocam a rebate, mobilizam amigos comuns, e juntam-se para acreditar no que a força de todos pode fazer.

Mas dito isto, não é só o Luís Montenegro e a AD que têm de por os olhos nos exemplos acima. Todos os partidos devem-no fazer.

Sabemos, que tal como nas famílias quando discutem entre elas, tal como os desportistas quando competem entre si, ou tal como quando as empresas disputam os mesmos mercados, também os políticos se digladiam com palavras e muitos excessos, mas tal como nos exemplos acima dados é importante haver um bem maior que una todos, depois das contendas, com o mesmo propósito.

Esse propósito nas empresas é a rentabilidade, no desporto o bom desempenho, nas famílias a felicidade dos filhos e no caso dos políticos é Portugal.

Se todos os partidos cumprissem com os slogans dos seus cartazes, estaríamos todos tranquilos, e recordando, os cartazes dos partidos eram todos muito claros. O PSD queria Unir Portugal, muito em linha com o PS, que queria um Portugal inteiro. O Chega queria Limpar Portugal. A Iniciativa Liberal queria soluções. O BE queria fazer o que ainda não foi feito, a CDU ambicionava uma vida melhor, o Livre sabe como futuro deve ser e o PAN continua a ser de causas.

Aos vencedores e vencidos das eleições, exige-se que respeitem o que prometeram, mas que também saibam interpretar o que os resultados expressos pelo povo lhes transmitiram.

Os interesses partidários devem dar lugar ao interesse nacional. Vivemos tempos de incertezas globais. O mundo está cada vez mais instável e a suas tensões geoestratégicas, ameaçam o mundo civilizado que conhecemos. Necessitamos de políticos com dimensão de Estado.

É por isso urgente e necessário que os líderes meditem sobre o interesse nacional e se ajustem por forma a encontrar, por negociação, uma solução que nos permita ter um governo forte e durável. Mas para isso é necessário que tenham essa dimensão de Estado. E isso é tão simples…basta lerem os slogans que apregoaram durante toda a campanha eleitoral. Una-se Portugal, limpe-se o que tem de ser limpo, apresente-se soluções, faça-se o que ainda não foi feito, sempre em busca de uma vida melhor, como deve ser, livre e com causas.