Sei que esta é uma opinião impopular mas nunca consegui adorar o Cinema de Godard.

Os diálogos dos seus filmes não servem a narrativa, não ajudam a que esta se desenvolva.

Narrativa essa que, muitas vezes, tenta mostrar uma realidade existencialista, falhando redondamente na execução pois nunca percebemos qual a finalidade daquilo que nos está a ser mostrado.

Já a edição, frenética e vanguardista, veio mudar a maneira de fazer cinema. No caso particular dos filmes de Goddard penso que o seu mérito fica por aí. Os takes de vários cortes e a rapidez de movimentos serviram mais vezes para atenuar falhas técnicas que para apresentar rigor estético.

Provavelmente não o percebi devidamente, mas sempre me pareceu “Style over Substance“. Se não percebia o seu cinema ainda menos perceberia a pessoa, enquadrada tantas vezes com movimentos e pensamentos que não me fazem sentido. Dizem que devemos separar a obra do artista, aquilo que é a vida pessoal daquilo que é criado. Neste caso tornou se muitas vezes, difícil, pois é possível ver, na obra de Godard, traços constantes daquilo em que acreditava.

Esquecendo tudo isto, é inegável a sua marca na história do cinema. Não existindo Goddard não teria existido a “Nouvelle Vague” e não existindo “Nouvelle Vague” tudo aquilo que é visto no grande ecrã seria um deserto de ideias. Juntamente com o resto do grupo dos Cahiers du Cinéma, do qual foi, juntamente com Truffaut, muitas vezes considerado pai e líder ideológico, conseguiu trazer inovação e rebeldia a uma arte que tardava em se modernizar. Os temas que retratou e, acima de tudo, a maneira como os retratou, ficaram para sempre como um pilar fundador do modernismo cinematográfico.

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Este frame em específico é referente a uma cena de Vivre Sa Vie (1962), o filme que mais me marcou do realizador francês. Vemos Nana (representada por Anna Karina, a musa de sempre de Godard) numa ida ao cinema. No grande ecrã, passa A paixão de Joana d’Arc (1928), um dos mais belos filmes alguma vez feitos. Quando sucede uma das derradeiras cenas do filme sueco, Nana chora conforme se vê na imagem. Godard corta constantemente entre a cena do filme que a sua personagem vê e aquele a que o espectador assiste. Só pode ser entendido como uma grande homenagem a Carl Theodor Dreyer.

Godard merece todas as homenagens a que tem sido submetido. Se para mim o seu cinema não serviu, para outros foi fundamental e fundador.

Se não retirei mais nada da sua obra, ao menos, com ela, consegui aprender que é possível amar a arte, enquanto se rejeita alguns dos seus autores. Amar o específico, mesmo que não se compreenda o todo.