No próximo dia 30 de janeiro somos chamados às urnas para dar cumprimento àquilo que é um dever cívico e um direito fundamental de toda a sociedade adulta. Estas eleições surgem assentes numa dualidade que as torna mais notáveis: vivemos num contexto delicado, fruto de uma crise socioeconómica provocada pelos efeitos devastadores da pandemia, na esperança de estar prestes a virar a página e começar a olhar para aquilo que será a aplicação dos fundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

Se para a comunidade em geral estas eleições são particularmente importantes, para as gerações mais novas, mais concretamente para os millennials, estas eleições devem ser encaradas como cruciais. Nas nossas curtas e instáveis vidas estamos a atravessar uma segunda crise que nos volta a colocar numa posição vulnerável no acesso à educação, mercado de trabalho e emancipação. No fundo, no acesso a condições de vida mais dignas.

As circunstâncias difíceis que a nossa geração atravessa pedem uma mobilização forte nas urnas que contrarie o rumo abstencionista que nos tem caracterizado. Pedro Magalhães, investigador do ICS-ULisboa, aponta que o afastamento dos jovens da política pode, facilmente, dar espaço para que se crie um círculo vicioso: somos um grupo que vota cada vez menos e quem vota menos torna-se cada vez menos importante na política. Os temas fraturantes para a nossa geração deixarão de aparecer na agenda política, uma vez que não terão um impacto eleitoral significativo para os partidos políticos.

Neste momento há, portanto, uma reflexão que se deve fazer: será que o desinteresse pela política é efetivamente o que afasta os jovens das urnas? Aparentemente, somos uma geração proativa nas várias formas de fazer política, nomeadamente, através do envolvimento em manifestações, petições públicas, associativismo e movimentos organizados. Dados recentes da Fundação Francisco Manuel dos Santos relevam que apenas 14% dos jovens declara ser abstencionista convicto, quando 87% refere ter uma posição política claramente assumida.

De qualquer das formas, creio que o grupo setorial mais importante para assumir esta reflexão como prioridade é, necessariamente, o dos representantes políticos. Este grupo setorial deve procurar ter um papel relevante nos desafios que a geração atravessa, transmitindo a noção de que participar faz a diferença. Afinal, os jovens de hoje em dia serão os decisores políticos do amanhã e, portanto, não se deve permitir que o atual alheamento político possa ter efeitos nas decisões do amanhã com vista a um futuro próspero do nosso país.

Face aos desafios que enfrentamos, sem dúvida merecedores de uma resposta nas urnas, o meu desejo é que esta reflexão comece a deixar de fazer sentido. No dia 30? Não dá, vou votar.

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