A indústria da tecnologia (e não só) tem um problema de longa data com a diversidade – mas isto já nós sabíamos.

Será que a flexibilização do trabalho permitirá colmatar esta realidade e, consequentemente, potenciar a inovação nas empresas e mitigar a discriminação tecnológica?

Inclusão e tecnologia emergente

Hoje em dia é impensável ou talvez impossível desassociar o ser humano da tecnologia. No entanto, nos últimos anos, vários produtos serviram como uma chamada de atenção para a discriminação existente em tecnologias emergentes – ferramentas que utilizam inteligência artificial e que exacerbam condutas preconceituosas, em diferentes contextos, ou até, mais recentemente, as falhas graves apontadas ao oxímetro, um instrumento médico utilizado para detetar a oxigenação no sangue, aquando da sua utilização em indivíduos não caucasianos.

Apesar de a tecnologia transparecer uma espécie de estatuto de neutralidade, objetividade e imparcialidade, tal associação não é autêntica, uma vez que estas inovações são construídas e alimentadas por dados e elementos do Homem. Ou seja, como refere Rashida Hodge, da Microsoft, “a tecnologia funciona como um espelho da nossa sociedade” e reflete, na maioria dos casos, os preconceitos e enviesamentos, conscientes e inconscientes, já incutidos na mesma.

Neste sentido, a teoria é simples: basta perceber um pouco de biologia e da teoria da evolução para entender a importância da diversidade na constituição de equipas e, consequentemente, a sua relevância no desenvolvimento de tecnologias/produtos/serviços. Mas como alcançamos essa diversidade?

Trabalho flexível e equipas mais diversas

A pandemia tem vindo a acelerar a flexibilização do trabalho, uma transformação que promoveu, de uma forma mais generalizada, a adoção de modelos de trabalho híbrido ou remoto. Serão estes modelos uma alavanca essencial para uma indústria mais inclusiva? Afinal, qual é a probabilidade de encontrarmos talento diversificado num raio de 30 quilómetros dos escritórios

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Os modelos de trabalho flexível, quando implementados de forma correta, não estando imunes a desafios, permitem:

  • um aumento exponencial das possibilidades de atração e integração de talento diversificado, que permitirá o desenvolvimento de equipas e, consequentemente, produtos e serviços mais inclusivos, adaptáveis e representativos;
  • um modelo de trabalho “work every time, anywhere” que potencia o bem-estar, físico e mental; o aumento da autonomia e produtividade; e, consequentemente, a criatividade. Como reforça, por exemplo, um estudo recente da Hays, que descobriu que numa análise com mais de 800 respostas, apenas 1⁄4 dos profissionais considera que o escritório oferece um ambiente de trabalho mais criativo do que trabalhar remotamente;
  • um aumento de engagement, pois permite que todas as pessoas se sintam vistas, ouvidas e valorizadas dentro e fora do trabalho, independentemente de diversos contextos e condições, garantindo uma melhor personalização da sua experiência pessoal e profissional.

Ou seja, a homogeneidade e a uniformização de ideias não alavancam a inovação e só a diversidade nas equipas que concebem, desenvolvem, testam e implementam a tecnologia poderá mitigar pensamentos de grupo e enviesamentos, evitando discriminações e dando respostas mais inclusivas aos consumidores e à população em geral.

Por outro lado, esta diversidade não é estanque e não se encontra nos mesmos sítios. É, por isso, urgente abrirmos bem mais do que apenas as portas dos nossos escritórios, e integrarmos talento diversificado que permita às equipas reflexões mais profundas e heterogéneas sobre as tecnologias, produtos e serviços que se criam.

Filipa Fernandes, Especialista em Recursos Humanos.

O Observador associa-se à comunidade Portuguese Women in Tech para dar voz às mulheres que compõe o ecossistema tecnológico português. O artigo representa a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da comunidade.