Muito se tem interrogado quando Marcelo Rebelo de Sousa decidirá dissolver o Parlamento com vista a pôr um termo ao Governo de António Costa. Muitos cenários se têm desenvolvido para responder a tal questão. Alguns passam pelo intermediário das europeias, outros remetem para um futuro bem mais breve, fruto do desgaste do atual Governo.
No entanto, bem antes de anteciparmos a linha temporal deste acontecimento e de desejarmos ferozmente as eleições antecipadas, o primeiro pensamento que devemos elaborar é o de “e se as eleições fossem amanhã?”, querendo dizer, será que haveria tanta mudança quanto aquilo que muitos gostariam?
As eleições legislativas anteriores deixaram bem claro que a vontade de uns, não é manifestamente igual à vontade da maioria, assim como as sondagens conseguem ser bastante enganosas levando a transferências de votos não desejáveis e ambicionáveis em primeira mão. Sendo assim, podemos descartar qualquer tipo de credibilização que as últimas sondagens nos têm oferecido, dado não serem um objeto de escrutínio fidedigno para qualquer tipo de avaliação eleitoral. O jornalismo português, de forma a colmatar um decréscimo de leitores, passa constantemente a palavra e os holofotes a quem menos deve ser colocado ênfase, desvirtuando, mais uma vez, a realidade eleitoral nacional. Assim, a única coisa que nos resta é a opinião pública. E o que deseja a opinião pública portuguesa? Nem mais, nem menos, do que afirma, e bem, António Costa. Estabilidade. Quanto a esta resposta estratégica, já antiga e típica do Primeiro-ministro, não se pode apontar réstia de crítica. É simples, clara, direta e reconfortante para qualquer um, ofegando quase por consequência o mínimo ruído da oposição acerca de eleições antecipadas.
Um outro ponto já esquecido é a abstenção. Não me parece que a abstenção seria, mais uma vez num cenário abstrato e hipotético, mais baixa do que em 2022, pelo menos de forma abrupta. Os últimos acontecimentos que têm preenchido a agenda dos jornalistas e a cabeça dos portugueses têm contribuído para a descrença da política potenciando uma abstenção nunca antes vista nas próximas eleições. Claro está, que o contrário pode, igualmente, suceder-se: o descontentamento incrementar a ida às urnas numa maior escala, com vista a mudar o Governo. Todavia, mais uma vez, não me parece o panorama mais credível. Apesar de todas as queixas, os portugueses são, por norma, um povo que se acomoda e acaba por ajustar à conjuntura em que vive, não dando espaço de manobra a grandes alterações no seu dia-a-dia. O mesmo acontece na política e no comportamento cívico de cada um.
Não devemos, portanto, partir do permanente pressuposto de que uma possível dissolução levará a uma mudança de Governo e de partido político, até porque António Costa já enunciara a sua recandidatura. Neste momento, os partidos de oposição e, quando se refere a partidos de oposição refere-se, claramente, aqueles que têm viabilidade de ingressar um Governo, devem preocupar-se, na primeira linha, em elaborar fortes planos contrastantes com os que estão em vigor, assim como detalhar os erros do Governo mostrando-se como alternativa governativa. Conquanto, mais agoniados se encontram em situar cronologicamente um evento que pode nem chegar a realizar-se. Este, é o pecado que os partidos mais à direita têm evocado. Pecado esse que, com certeza, influenciará os portugueses na ida à urna por não encontrarem nos restantes partidos um Governo passível de ser viabilizado, ficando, mais uma vez, pela estabilidade de António Costa e pelo comodismo a si associado.
A verdade é uma só. Luís Montenegro tem vindo a intensificar as suas intervenções nas últimas duas semanas fazendo duas revelações consideradas inéditas: 1. a longitude que separa o PSD do CHEGA, algo que grande parte dos eleitores ansiava ouvir há largos meses, e; 2. a convicta afirmação de que «o PSD assegura ao país, aos portugueses e também ao Presidente da República que é uma alternativa de Governo ao PS».
Por resoluto, pedir eleições antecipadas ao PR é pedir um novo Governo, certamente mais à direita pela tremenda polarização que o nosso espetro politico hoje apresenta. Não obstante, uma nova vitória do Partido Socialista não está fora de mesa, algo que todos estes argumentos tentam sublinhar. Não existem verdades absolutas, muito menos num período tão instável e dinâmico como o período eleitoral.
Propondo-se eleições antecipadas, propomos um retorno à estaca 0 e, portanto, não é sinónimo da viabilização de um novo Governo.