Pedro Santana Lopes. Luís Marques Mendes. André Ventura. Estes têm sido os nomes mais lidos e relidos nos últimos dias. Tudo a olhar ao mesmo: as Presidenciais de 2026. Apesar de nenhuma candidatura estar 100% formalizada, os anúncios já efetuados prescrevem a intenção presidencial e o início da corrida a Belém.

O que é certo é que todos os nomes já apresentados se situam no espectro da direita. Porque será? Será que possuímos melhores quadros à direita? Será que os partidos mais à esquerda não detêm, sequer, candidatos à altura para a Presidência da República? Ou será que tudo não passa de uma escolha momentânea e a direita se tem antecipado demasiado para um evento que ocorrerá em menos de 3 anos?

Talvez a questão que aqui se prende não é a existência, ou não, de quadros – bons ou maus – em ambos os espectros políticos. Talvez o cenário mais provável seja a necessidade, de caráter urgente, por parte da direita em angariar o máximo de candidatos possíveis para ganhar, mais uma vez, Belém. Talvez a esquerda tenha, igual e efetivamente, quadros e escolhas semelhantes a apresentar, conquanto, prefere analisar os passos da direita para, de seguida, chegarem ao jogo e colocarem em cima da mesa um nome a que ninguém ficará indiferente, movimentando, assim, as atenções e os holofotes. Talvez tudo não passe de uma estratégia política, levando ao esvaziamento jornalístico para, numa altura mais próxima das presidenciais, e não tão precoce como agora, os créditos caírem todos na mesma bolha. Enquanto que a direita se tem preocupado em ocupar o espaço mediático com tanta antecipação, aumentando e potenciando a divisão ideológica, a esquerda preocupar-se-á mais tarde, focando preocupações nas próximas europeias, por exemplo, ou opta por tratar desta questão em silêncio, via interna, elaborando o seu próprio esquema de forma a recuperar Belém, perdida desde Jorge Sampaio.

Seja como for, esta maratona num tão curto espaço de tempo, por parte da direita, não foi inteligente. Para além de estarem a competir no mesmo espaço e o mesmo público (que mesmo sendo eleições presidenciais e não eleições autárquicas ou legislativas, o sujeito partidário tem a sua quota-parte), o choque de candidaturas não promove a singularidade de cada uma, nem lhes confere a pertinência e magnitude que cada uma transporta para o eleitorado. Pelo contrário, são vistas como candidaturas que, por serem simultâneas, não têm sentido próprio e carecem de sentido de Estado.

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Contudo, apesar deste rebuliço na ala da direita, quem saiu mais prejudicado com o anúncio de prematura candidatura foi, sem dúvida, André Ventura.

Para além de ser uma candidatura nitidamente impulsiva, pode causar uma descida drástica face aos resultados atingidos em 2021 (11.90%). Isto porque, na época, o único nome à direita que André Ventura enfrentava era o do atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. Desta forma, a transferência de votos, a abstenção, o ‘voto descontente’, o voto útil e a sedução de eleitorado mais longe do centro foram técnicas utilizadas com sucesso, que lhe permitiram o terceiro lugar. Hoje em dia, com os nomes de Santana Lopes, Marques Mendes e, possivelmente, veremos, de Paulo Portas, André Ventura acaba por se ‘auto-ofuscar’, possibilitando automaticamente uma descida óbvia nas sondagens pela competição demasiado repartida de eleitorado da direita. A decisão, assim, ainda que pudesse ser estratégica para conseguir prender de forma imediata todo o seu público-alvo e do Partido Chega, irá, a longo prazo, deixar de nutrir o efeito que lhe foi destinado. Principalmente quando a declaração dita foi: “Se Marques Mendes e Santos Silva avançarem, tenho uma propensão muito grande para assumir esse desafio”.

Aliás, esta fragmentação, para além do confronto com nomes que partilham a ala da direita, também se irá traduzir na receção dos votos que, na sua maioria, já não irão abranger a direita, a direita mais conservadora e a direita mais radical, como acontecera em 2021, dado Marcelo Rebelo de Sousa ser de um alinhamento de uma direita-centro. André Ventura irá, apenas, arrecadar os votos do próprio partido, não dando lugar ao famoso voto de protesto, desta vez, de todo o espectro da direita.

A fragmentação da direita é, de momento, o seu maior inimigo. Não a esquerda.