Corre uma discussão sobre se os restos mortais, do ilustre (e excelente) escritor, devem ou não ir “repousar” em Santa Engrácia, em Lisboa, no panteão, ou se devem permanecer em Baião.
Escrevo não sobre esta mudança, mas sobre outras a quem ninguém se tem oposto. Sempre que os arqueólogos resolvem escavar dentro de antigas igrejas e nas suas imediações aparecem ossadas, como seria de esperar, as pessoas eram enterradas em “solo sagrado”, apenas. O que começou por ser dentro das igrejas veio a transbordar para o exterior.
Cheguei a ouvir um autarca propor, em tempo, que se expusesse um dos esqueletos provenientes de umas “sondagens” numa vitrina, como o Tutankamon, mas na versão tuga, sem máscara, sem faixas, sem joias e sem dignidade.
As ossadas ficam depois “à guarda do Estado”, enfiadas dentro de sacos de plástico, com uma etiqueta, certamente com um número e umas letras. Por ali ficarão até, digo eu, alguém se lembrar de se livrar delas. Aqui reside a diferença entre os esqueletos ilustres e os dos filhos do povo. Nos primeiros há uma “transladação”, nos segundos há uma profanação de sepulturas (que até a lei pune, mas que é ignorada) e das crenças e fé dos falecidos.
Já pensaram se arrumassem as ossadas de Mário Soares, num saco para estudo posterior (tipo ver as cáries)?
Percebo que possam ter de ser levantadas as ossadas, mas então que as enterrem de novo, no cemitério actual mais próximo e com direito a uma estela referencial.
Creio que as Igrejas (plural) se deviam manifestar e devolver a dignidade e o eterno descanso a quem não tem os pergaminhos de escritor, fadista ou jogador da bola.
É que os ossos são todos iguais, mas há uns que são mais iguais que outros.