A Iniciativa Liberal é um partido que atrai pelo ideal de liberdade e por defender uma sociedade desprendida do Estado. Quem vê com desagrado a apropriação pelo Estado de funções que não devia ter a não ser de modo supletivo, quem percebe que um Estado omnipresente tem tendências totalitárias, quem percebe a facilidade com que a corrupção grassa quando há excesso de concentração de poder, fica satisfeito com muitas das medidas do IL.
No entanto, para não nos deixarmos levar pelo coração (ou pelos slogans), vale a pena perceber a filosofia de fundo do IL. Dessa maneira, percebemos melhor o que está por trás das propostas; porque uma mesma proposta pode ter razões diferentes.
As propostas da IL estão assentes num princípio de plena autonomia (liberdade) de cada indivíduo: cada um decide sobre si próprio, independentemente de tudo à volta. Cada pessoa é um átomo isolado: o que se passa com ela é só com ela. E ela não tem nada a ver com os outros.
Ora este pressuposto é falso. Ninguém é um átomo isolado. Todos nós temos um mundo de relações, desde a nossa família que nos criou, a sociedade que nos formou, a cultura em que fomos instruídos (a nossa história), etc. E essas relações implicam obrigações, para com a família, para com a sociedade, para com o País, etc. Ninguém pode receber isto tudo e voltar as costas dizendo que os outros não são nada com ele. Ninguém pode dizer que não tem de contribuir para o bem comum, só para o bem próprio.
Então eu não faço comigo aquilo que quero? Sim, mas com constrangimentos. Os constrangimentos de ter em conta a contribuição positiva que todos temos de procurar dar para o bem comum. Há muitos caminhos para isso, e às vezes falhamos; mas não devemos agir sem esse pano de fundo: nós não viemos do nada e temos obrigações para quem nos ajudou a chegar onde estamos. Nomeadamente o de preparar um bom caminho para as próximas gerações.
Essa postura do IL tem consequências práticas: a desresponsabilidade social. Daí o seu desinteresse pelas instituições de solidariedade social. Daí a sua despreocupação pelas pessoas mais fragilizadas.
Em última análise, a filosofia do IL está assente no egoísmo das pessoas: cada um que se amanhe.
Ora, nem o egoísmo da IL nem a inveja do socialismo para com quem tem posses são bons princípios para uma sociedade se reger.