Ruidoso tem sido o silêncio dos media tradicionais sobre a situação política dos países com quem Portugal partilha laços históricos, afinidades ou proximidade geográfica, especialmente se o cenário político não corresponde a uma realidade europeia e mundial que parece cada vez mais empurrada.

Parece existir uma narrativa constante dos bons, virtuosos, incapazes de cometer erros, que de tão brilhantes são incontestáveis, em oposição aos extremistas, aqueles que geralmente os questionam. Aqueles que de tão maus, brutos e inquisitivos só podem ser, obviamente loucos.

É inegável, o mundo, a Europa e o país estão divididos entre duas grandes equipas que se vão defrontando através dos seus líderes políticos na busca daquilo que acreditam ser a sociedade perfeita. Os políticos na sua maioria, movem-se pelo que lhes vai dando popularidade.

Aqui chegados, o que se passa no Reino Unido? Desde que saiu da União Europeia já não ouvimos falar deles. Ouvimos dizer que estão muito mal, praticamente às portas da ruína financeira, apesar dos nossos jovens continuarem a eleger o Reino como destino de eleição. Sim, é verdade, já teve melhores dias, a permanência do poder absoluto de um partido ao longo de 14 anos, e um sistema eleitoral que o incentiva não são os melhores impulsionadores para uma mudança.

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O Brexit, surgiu de uma profunda descrença de quem sempre desconfiou da União Europeia e nunca quis a moeda única. Estas ideias não eram novas, Margareth Thatcher disse e ficou registado para a posteridade “Não, não, não” à proposta de Jacques Delors para que o Parlamento Europeu fosse órgão democrático da comunidade, a Comissão o órgão executivo e o conselho de ministros, o Senado.

Nigel Farage, o pai do Brexit, ingressou na Juventude Conservadora, que abandonou quando se dá o tratado de Tratado de Maastricht por considerar um atentado à soberania nacional. Viria a ser eleito eurodeputado por um partido por si fundado, o UKIP, em 1999, com o objectivo de extinguir o seu próprio cargo, coisa que conseguiu com sucesso em 2020.

Como em qualquer divórcio, existiram diferenças irreconciliáveis, mas o Reino Unido expressou a vontade de manter uma cooperação política e comercial com a União Europeia. Os Britânicos rejeitaram – utilizando as palavras de Farage – ”uma bandeira, um hino e um exército europeu, uma união política”.

O Reino Unido saiu da União Europeia com condições extremamente: penalizadoras: Foram reintroduzidas barreiras comerciais, afectando importações e exportações, para além da obrigatoriedade do pagamento de 39 bilhões de libras, este foi o preço a pagar para ter a soberania devolvida.

O objectivo da saída da União Europeia era retomar o controlo sobre o próprio país, fronteiras, comercio e sobretudo decisões políticas, cabia ao governo nacional fazê-lo. Mas não o fez. O governo dos Conservadores, foi incompetente, e da sua incompetência sobre a sua autogestão muitos foram os Britânicos que repensaram o assunto, e preferiam o seu destino novamente nas mãos de uma entidade supranacional.

O governo de Boris, Truss, Sunak não conseguiu repor qualquer controlo fronteiriço, tem acenado com deportações para o Ruanda que são altamente questionáveis do ponto de vista ético e operacional, tiveram três primeiros-ministros, dois deles sem se submeterem ao escrutínio eleitoral, e nesta enorme confusão o partido Trabalhista surge nas intenções de voto com aquela que pode ser a maior vitória em um século.

Quem observar Sir Keir Starmer, não lhe identifica a desenvoltura ou popularidade de Tony Blair, “King Tony” como chegou a ser chamado no seu tempo, Sir Keir Starmer, é apenas menos mau que qualquer opção que os Conservadores possam colocar em cima da mesa, e tem do seu lado um argumento fácil: catorze anos de governo do seu opositor. Não é preciso ser excepcionalmente brilhante.

Politicamente, estes Conservadores e os Trabalhistas concordam praticamente em tudo, de modo que apenas o desejo de rotatividade política justifica a mais que provável vitoria dos Trabalhistas.

Parecia uma eleição tranquila, até Nigel Farage decidir voltar à política activa naquilo que abertamente identificou como “uma mudança política na europa” e “uma rejeição dos mais jovens à classe política”. Ele está correcto, identificou bem a oportunidade o momento e o público-alvo: Duas semanas após decidir reapresentar-se a sufrágio, foi agredido duas vezes, faz mais capas e noticias que os seus rivais, e já ultrapassou os Conservadores nas intenções de voto.

Não antevejo uma melhoria nas condições dos Britânicos às mãos dos Socialistas, da mesma forma que não a veria nesta continuidade rumo a lado nenhum. A única novidade depois de 4 de Julho, será o que se adivinha uma oposição forte, popular e politicamente incorrecta, por parte do Reform UK, num sistema feito para que esses não tenham espaço. Se conseguirão representatividade parlamentar será uma surpresa até às eleições. Ultrapassar o partido de Churchill e Thatcher, será um terramoto nas ilhas britânicas.