Perante a pandemia, a crise energética e a inflação gerada pela disrupção de várias cadeias logísticas internacionais, o Orçamento do Estado foi ineditamente chumbado, colocando em causa a celeridade da aplicação dos fundos europeus. À luz deste acontecimento, o Governo minoritário do PS ficou sem condições de governabilidade e a geringonça, seja a dois, seja a três, passou a ser uma opção política instável e perigosa para os portugueses. Consequentemente, a Assembleia da República será dissolvida e Portugal irá a eleições legislativas lá para janeiro ou fevereiro do próximo ano.

Sendo assim, se colocarmos de parte a hipótese de um bloco central, só existem duas opções políticas que podem vir a assegurar alguma estabilidade governativa nos próximos anos. Uma maioria absoluta do PS ou do PSD (ou de uma coligação por si liderada). Por estas razões, nas eleições que se avizinham, as lideranças do PS e do PSD vão apelar ao voto útil e à maioria absoluta.

Por um lado, o PS alertará para que um voto perdido para os partidos à sua esquerda só aumentará a probabilidade de o PSD vencer as eleições. Para além disso, o PS procurará responsabilizar o BE e o PCP por derrubarem um Governo e um orçamento de esquerda, votando em uníssono com a direita. Se os votantes oscilantes entre o PS, o BE e o PCP concordarem com essa narrativa, mesmo que a esquerda perca votos face a 2019, o PS beneficiará do voto útil. Nesse cenário, esse ganho poderá ser suficiente para o PS atingir a maioria absoluta ou para superar minoritariamente o PSD, circunstância que forçaria os partidos da antiga geringonça a voltar a negociar sem comungarem de um projeto para Portugal. Logo, a não ser que o apoio do PAN seja suficiente para atingir a maioria, uma vitória de Pirro do PS apenas trará mais instabilidade.

Por outro lado, o PSD apelará ao voto útil à mudança, lembrando que um voto nos partidos à sua direita só aumentará a probabilidade de o PS ganhar as eleições. Se esse apelo resultar e a maioria dos portugueses estiver imbuída de uma vontade inabalável de mudança, o PSD, coligado ou sozinho, poderá ganhar as próximas eleições legislativas. Mas, mesmo ganhando, se o centro-direita for minoritário, a esquerda não o deixará governar, voltando a condenar o país à instabilidade.

A dúvida está em saber se o voto útil favorecerá mais o PS de António Costa ou o PSD de Rui Rio ou de um recém-eleito Paulo Rangel. A pendência do voto útil entre estes dois partidos estará dependente do carisma das suas lideranças, da robustez das suas propostas e da magnitude da sua campanha eleitoral. Será nesse campo que se jogará a conquista da confiança dos portugueses, e logo, o futuro de Portugal.

Chegados aqui, atendendo ao instável panorama político nacional e ao desafiante contexto económico internacional, Portugal necessita de um novo rumo democraticamente legitimado. Precisa de um caminho para a estabilidade, mas sobretudo de um programa para a prosperidade. E esse não se constrói com meias tintas, nem com demagogias, nem com projetos de poder só pelo poder. Constrói-se com uma visão estratégica política de longo prazo, assente nas 10 linhas orientadoras que descrevi neste artigo.

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