A pandemia não nos sai da cabeça. É um facto! O quotidiano, pura e simplesmente, não deixa: são as notícias que nos chegam em cascata, as máscaras que somos obrigados a usar, as opiniões dos especialistas, as conversas com amigos enquanto desinfectamos as mãos.

O estado das coisas relembra-nos a teoria do “Cisne Negro”, que já foi, também nesta fase, referido várias vezes e por diversos autores.

A história remonta ao século XVI, quando era ensinado às crianças inglesas que todos os cisnes eram brancos porque os registos históricos demonstravam que as penas dos cisnes tinham que ser brancas. Até que, no final do século XVII, exploradores holandeses avistaram, pela primeira vez, cisnes negros na Austrália. O impossível tornava-se possível!

Relembro que o Professor de Finanças Nassim Nicholas Taleb no seu livro publicado em 2007 “The Black Swan: The Impact of the Highly Improbable”, usa esta teoria para explicar alguns dos eventos improváveis que têm acontecido no mundo. Para o efeito, defende o professor Tableb, os eventos “cisne negro” têm que ter três atributos: raridade, elevado impacto e previsibilidade retrospectiva, ou seja, apesar de quase únicos, a humanidade encontra sempre forma de os explicar após o seu acontecimento.

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A situação que vivemos é mesmo única e já existem diversas teorias (algumas da conspiração) para explicar esta pandemia.

Importa, na minha opinião discutir o impacto. Mais concretamente, o impacto nas empresas, sejam micro ou gigantes mundiais. Sabemos, já, que em alguns nichos de mercado esta pandemia tem tido um impacto positivo, por exemplo, nas empresas de tecnologia (plataformas de streaming, e ferramentas de trabalho remoto), farmacêuticas, fabricantes de equipamento de protecção individual, entre outras.

E para as empresas portuguesas, qual é o impacto?

Linhas de crédito, moratórias, layoff e outros palavrões já fazem, infelizmente, parte do léxico da grande maioria dos portugueses e todas as medidas têm-nos dado uma falsa sensação de que tudo está mais ou menos bem neste novo normal. No entanto, o maior choque é, e será, a falta de liquidez.

É, portanto, essencial preparar melhor os tempos que se avizinham com algumas medidas concretas: por exemplo, a elaboração e o acompanhamento próximo de um orçamento de tesouraria de forma a saber sempre a posição de liquidez e poder mitigar eventuais riscos de ruptura; sempre que possível, solicitar aos clientes prazos de pagamentos mais curtos; utilizar as medidas de apoio às empresas que o Estado disponibiliza (linhas de crédito bonificadas, diferimento de pagamentos à Autoridade Tributária e à Segurança Social); e negociar com os fornecedores prazos de pagamento mais alargados, mesmo implicando alguma redução da margem – e recordo que as empresas não vivem de margem, mas sim, de dinheiro.

Saliento, ainda, a importância da responsabilidade social entre as empresas que, nesta época, se traduz especialmente por pagar a tempo e horas.

Sim, o estado de guerra vai continuar e a principal arma vai ser a liquidez.