A mortalidade infantil em Portugal, ainda na década de 60, tinha números alarmantes. Em 1960, por cada 1000 crianças nascidas vivas morreram 78, com menos de um ano.
Foi feito um caminho honroso nesse sentido. Entramos no novo século com uma taxa de mortalidade infantil de 5,5%. Um caminho que importa enaltecer no âmbito da saúde materno-infantil.
Quando chegamos a esta nova década, sente-se uma névoa pesada sobre a maternidade, não é bom para um país, quando se passa a perceção que este não cuida da sua renovação geracional.
A questão das urgências obstétricas fechadas, as sucessivas notícias de km e km feitos até ao hospital, as urgências pediátricas encerradas, criam um sentimento de insegurança que quem vive as lides da maternidade não precisa de sentir. Se há necessidade de concentrar meios ou de restruturar o SNS, faça-se, mas sem criar nas pessoas a perceção que estão abandonadas à sua sorte. A sorte de precisar de apoio no horário convencional, 9h-17h e apenas durantes os dias úteis.
Diz o Público que Portugal lidera a lista dos países da União Europeia (UE) com maior proporção de apenas um filho por agregado familiar, no universo das famílias com filhos; temos cada vez mais famílias sem crianças e as pessoas que vivem sozinhas aumentaram 28%. Destas, quase 55% são idosos, tornando Portugal no 4.º país da UE com maior percentagem de idosos a viver sozinhos (a liderança é da Croácia, com 62,7%) no universo total de pessoas que o fazem. Somos também o 4.º país mais envelhecido do mundo. O retrato populacional do país, que os portugueses estão cada vez mais sozinhos. Um problema de envelhecimento estrutural que temos de tratar. Agora, associamos vários problemas à natalidade. Invés de se criar uma política de apoio não, criam-se entraves, dificuldades que afastam quem quer constituir família.
Claro que já se fez um caminho muito positivo, hoje as licenças já levam com 5 meses, com o senão, de não serem pagas a 100%. Também já há reduções de horários e leis que permitem a flexibilidade de horários para pais. Contudo, é apenas um mero caminho teórico. Na prática ainda há uma longa jornada a percorrer.
Quem vos escreve entrega todos os meses uma declaração emitida pelo médico de família a atestar que amamento, o que me dá o direito a reduzir o meu horário em 2h. Porém, na prática….
Quando a PGR foi ouvida na Assembleia da República disse o seguinte: “O peso do sexo feminino é hoje superior a dois terços, ou perto de 90% se considerada a faixa etária até aos 30 anos. Esta circunstância constitui um fator de constrangimento em caso de gravidez, gravidez de risco, gozo de licença parental e licenças de amamentação”. Este é o posicionamento do mercado laboral, dos empregadores e dos colegas, a lei reduz a carga horária, porém não fala no reajuste da carga laboral. Num claro, “podem sair mais cedo, desde que deixem o trabalho todo feito”.
Há um caminho grande a fazer nesta conciliação da jornada família vs trabalho. A redução de horário e a licença igual também para pais, iria demonstrar à sociedade a importância de colocar na prática este equilíbrio difícil. Tendo em conta a escassez de vagas na creche, assim como as frequentes doenças no primeiro ano de vida de muitos bebés, pelo facto de irem para a creche, o que provoca ausências laborais, deveria colocar a debate a possibilidade de alargar a licença parental até aos 12 meses, sendo pagas a 100% se divididas pelos dois cuidadores principais da criança. Desta forma, instituíramos a divisão das tarefas do cuidado, e os desafios de voltar ao mercado de trabalho com uma nova faceta, a de pai/mãe. Não se trata de uma tarefa menor esta, de cuidar/educar uma criança. Também é muito válido querer manter uma carreira profissional, pelo que seria de bom tom todos trabalharmos para criar condições para que a maternidade fosse um processo fluído e leve para quem o deseja abraçar. E não um processo nubloso, onde nem se sabe se temos a sorte de ter uma maternidade aberta para o dia em que rebentam as águas e nem se sabe se, quando se regressa ao trabalho vamos ter a sorte de ter lugar numa creche. Tudo isto num espaço de meses onde ainda se recupera fisica e psicologicamente da mudança natural que um filho provoca na dinâmica familiar.