A história da humanidade é repleta de avanços tecnológicos que transformaram a maneira como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos. Os impactos retiraram formas de trabalho, é certo, mas criaram muitas outras formas e mais interessantes de trabalho. Mas há sempre os detratores das revoluções que pretendem a revolução pela revolução mas não conseguem conviver com as suas consequências.
Imagine-se o que seria o mundo sem fogo? A sua descoberta foi uma revolução há cerca de 1,5 milhões de anos. Foi pelo controlo do fogo que os seres humanos puderam cozinhar alimentos, aquecer-se em climas frios e iluminar as noites escuras. E o fogo foi massificado e usado, igualmente, em fabricação de ferramentas de pedra, dando início à Revolução Neolítica, que marcou o início da agricultura, o fim do nomadismo e o início do sedentarismo. Por causa da massificação do fogo imagine-se quantos não terão sido os detratores à revolução?
Imagine-se o que seria o mundo sem roda? Um dos avanços magníficos da história humana e uma verdadeira revolução. Que permitiu massificar a mobilidade, por exemplo. Se hoje andamos de bicicleta, de carro ou de quase tudo o que se move, é devido à roda. Se hoje transportamos cargas mais pesadas, à roda se deve. Por causa da massificação da roda imagine-se quantos não terão sido os detratores à revolução?
Imagine-se o homem sem Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra no século XVIII, e que foi um dos eventos mais transformadores da história. A invenção da máquina a vapor foi apenas o ponto de partida, permitindo a produção em massa de produtos e a criação de fábricas. A Revolução Industrial mudou completamente a economia global, criando empregos, aumentando a produtividade e levando a um aumento significativo na produção. Por causa da massificação dos fundamentos da revolução industrial imagine-se quantos detratores não terão existido à revolução?
Imagine-se o mundo sem eletricidade, outra revolução do final do século XIX e que mudou o mundo de maneira ainda mais profunda ainda do que a Revolução Industrial. A eletricidade tornou possível a iluminação, a comunicação, o transporte e a produção em massa de produtos. A eletrificação levou à criação de novas indústrias e à criação de novos empregos, tornando-se uma das forças motrizes por trás da economia global. Imaginem-se o número dos detratores à revolução da eletricidade?
Imagine-se o que seria do mundo sem telefone, tendo permitido revolucionar a comunicação humana. O telefone permitiu que as pessoas comunicassem, de forma instantânea, a longas distâncias, possibilitando a coordenação de atividades e o desenvolvimento de novas formas de trabalho em equipa. O telefone foi o precursor da era digital, que transformou a maneira como nos comunicamos e nos relacionamos uns com os outros. Imaginem-se, assim, os detratores às consequências da revolução?
Imagine-se agora o mundo sem esta Revolução da Informação, que começou na década de 1950 com a invenção do computador e que continuamos a viver? O desenvolvimento da tecnologia de informação levou à criação da internet, que permitiu a troca instantânea de informação e a criação de novas formas de trabalho e entretenimento. A Revolução da Informação está em constante evolução, com avanços tecnológicos sucessivos até chegarmos à inteligência artificial, à robótica e à biotecnologia que, feliz ou infelizmente, moldarão o futuro da humanidade. Estão a emergir, mais uma vez e de todo o lado, os detratores da revolução.
Ora porque tira empregos, ora porque massifica, ora porque não deixa ao homem o ato criador, ora porque é capitalista. E por capitalismo temos de entender uma economia de mercado onde a tomada de decisão e o investimento são determinados pelos detentores dos fatores de produção nos mercados financeiros e de capitais, enquanto os preços e a distribuição de bens são principalmente determinados pela concorrência existente. Onde devem e fazem falta, obviamente, os reguladores.
Imagine-se, agora, o número de detratores deste movimento “estupidificante” da inteligência artificial. Imagine-se o número de opositores porque a inteligência artificial irá emergir por todo o lado e retirará empregos e trabalho. Mas a grande questão reside nos benefícios que se colocam ao homem e à humanidade. O que fazer com esses benefícios para melhorar as condições em que trabalhamos, ensinamos, exercemos medicina, somos juristas, artistas ou escritores? Ou desempenharemos uma série de novas profissões? Como pode a inteligência artificial ser usada para alavancar precisamente o que mais nos custa fazer?
Esse é o problema dos detratores. Sempre estiveram a favor das revoluções, mas contra o resultado dessas revoluções. Revolução sim. Mas inconsequente revolução sem aceitar os seus benefícios. Nunca tendo entendido que o homem hoje está bem melhor que o homem de Neandertal.
*Título retirado de um texto de Raquel Varela que começava exatamente nesta linha, mas cujos argumentos são totalmente contrários aos que apresento. Não posso estar mais em desacordo com o texto escrito e, por isso, resolvo escrever este texto. Nada contra a autora, que estimo. Sim contra as ideias, que refuto. Bato-me sempre pela pluralidade de ideias.