Fui ao Teatro Maria Matos ver “Querido Evan Hansen”.

A historinha retrata um jovem, de nome Evan Hansen, um jovem ansioso e socialmente retraído que luta para chegar às pessoas ao seu redor. Após o suicídio de um colega de escola, Connor Murphy, um mal-entendido leva os pais de Connor a acreditarem que o seu filho e Evan eram grandes amigos. Evan, inicialmente incapaz de corrigir o erro, acaba por inventar uma série de mentiras para sustentar essa ilusão que o retira da sua solidão e lhe traz relacionamentos sociais, um namoro com a irmã de Connor (uma paixão retraída) e o “ganho” de uma família que nunca teve.

As sucessivas mentiras acabam por transformar Evan numa figura pública, à medida que as suas palavras — na forma de uma carta que ele supostamente escreveu a Connor — inspiram um movimento comunitário em torno da ideia do sentido de pertença e de empatia. No entanto, com o desenrolar da história, Evan é confrontado com a verdade e, no final, as consequências de seus atos levam à necessidade de enfrentar os seus próprios demónios internos.

Não contei grande coisa com o que acima disse, assim espero, porque vale mesmo a pena ir assistir. Afinal, é uma belíssima peça de teatro e muito adaptada ao período que vamos viver, o Natal.

Ao naipe de 8 artistas, dou desde já os meus parabéns porque merecem uma enorme salva de palmas: Brienne Keller, Dany Duarte, Gabriela Barros, Inês Pires Tavares, João Maria Cardoso, João Sá Coelho, Miguel Raposo e Sílvia Filipe, tal como a quem esteve por trás, nomeadamente Rui Melo e Cuca Pires, na encenação, de quem ouvi um podcast sobre doenças raras que adorei, e a banda sonora. Todos eles trataram muito bem questões de elevadíssima complexidade como saúde mental e ansiedade, conexão e sentido de pertença, excesso de redes sociais e impacto coletivo e, também, empatia e perdão próprio. Foca, como pano de fundo, um problema gigante da nossa sociedade, e não apenas dos jovens, que é talvez dos problemas mais sérios do mundo atual: o problema da solidão. Que pode, em boa verdade, levar ao suicídio.

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Porque falo desta peça de teatro? Porque devem ir ver, todos, novos e menos novos. Todos mesmo.

O que tem isto a ver connosco e com as empresas de que falo a maioria das vezes? Tudo. As nossas organizações têm entre si pessoas, pessoas com problemas, pessoas tantas vezes sem sentido de pertença, pessoas com ansiedade e com enorme solidão. Nunca é demais, para quem quer olhar uma organização como um conjunto de pessoas reunidas e em conjunto e que sejam lideráveis para objetivos, olhar para as pessoas primeiro e olhar às suas circunstâncias.

Bom para deitar umas lágrimas (sim, a minha sensibilidade vintage não me perdoou algumas lágrimas) e, porque não, ficar triste com o mundo que temos. Bom para nos ajudar a lembrar que a empatia para com todos os que nos rodeiam merece ser tratada como central, que a compaixão, a inclusão e o perdão devem estar sempre nas nossas vidas. E que o contacto com os outros nunca é demais. Contacto físico, olhos nos olhos, no abraço, nas mãos.

Bom para nos olharmos por dentro e percebermos como somos falíveis nas relações com quem nos rodeia. Bom para transpormos para as nossas vidas os inúmeros momentos de solidão e as exigências do contexto em que vivemos.

Bom para sairmos com uma noite que, de todo, pode ser considerada como perdida. Belíssimo para alimentarmos algumas conversas sobre o musical e agirmos à posteriori, porque nos deve servir como pano de fundo para tantas e tantas coisas.

Eu, e todos os meus colegas que estão em escolas e universidades, como professores, alunos ou não, devem ir ver. Porque a realidade que todos os dias enfrentamos está ali muito bem retratada. Não deixem, pois, de ir ao teatro, de chorar, de conversar, e de estimular as relações com os demais. A vida não para. E, para todos os que me conhecem (ou não), eu estou aqui, querido Evan Hansen. #euestouaqui.