Nas Eleições Europeias poderá ser jogada uma segunda volta das Legislativas de março que torne mais esclarecedoras as legitimidades em presença no nosso universo político, e se as pessoas querem um quadro de estabilidade governativa poderão nestas outras eleições dar esse sinal. São eleições diferentes, já o sabemos, mas a política nacional estará desta vez ainda mais presente, desde logo pela proximidade de ambas as eleições, Legislativas e Europeias, com as eleições regionais da Madeira pelo meio. Delas poderá resultar um quadro de maior estabilidade política. Serão realizadas num período em que já haverá formulação de algumas políticas públicas (saúde, educação, corrupção, segurança pública) pelo novo Governo.

O partido Chega, que cresceu 316% em dois anos, parece não saber o que fazer com as novas responsabilidades e “dores de crescimento”. Representar um milhão, cento e sessenta e nove mil, oitocentos e trinta e seis eleitores,  não se compadece com chicana política, sendo esse universo muito diferente na sua base formativa. Trata-se acima de tudo de responsabilidade. E esta aumenta exponencialmente com o número de eleitores que confiam ser representados por um partido político.

Por isso a CDU e o BE estão em queda há algum tempo; porque na verdade ninguém – ou muito poucos – querem sair ou extremar sulcos divisórios com a Europa ou a NATO,  como aqueles partidos parecem defender, e logo num período tão conturbado para a paz na Europa, pelo que não lhes é atribuída significativa responsabilidade pelos eleitores.

Já o CHEGA vem beneficiando de forte adesão popular, muitos por serem contra o “sistema” – seja lá o que isso for – e outros porque estão descontentes com os partidos tradicionais ou, ainda, porque acham que as bandeiras da segurança, da autoridade, da corrupção e da imigração regulada têm de merecer outra abordagem e maior atenção dos decisores públicos.

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Seja como for, uma vez legitimados os representantes, espera-se responsabilidade e não constante vitimização, jogadas caricatas ou meros desvios de atenção do que é fundamental para os portugueses: boa governação.

No primeiro embate na Assembleia da República, tivemos André Ventura a dizer numa intervenção inicial que tinha dado orientação de voto no candidato apresentado pela Aliança Democrática (AD), para logo de seguida alinhar pela vitimização dizendo que  “não está disposto para ser espezinhado e humilhado” e que a AD tem de procurar apoio junto de outros, liderando ele a oposição. Como o voto para a eleição do Presidente da Assembleia da República é secreto, Ventura pretendia jogar com os resultados colocando a idoneidade de todos em causa, mas a verdade é que PSD+CDS+IL votaram sempre de forma coerente e honrando os representados: o tal povo de que os políticos gostam de falar. Até votaram num vice-presidente da AR indicado pelo Chega. Com transparência e sem jogadas. Os eleitos da AD, sem sofismas e em dever de obrigação e responsabilidade, apresentaram o seu candidato e viabilizaram as escolhas para as vice-presidências de todos (todos!) os partidos com esse direito nos termos das regras vigentes.

Doravante, quebrada essa barreira de confiança – que custa mais a construir do que a derrubar – será preciso que todos, responsavelmente, aportem contributos e apoios para as boas decisões. Por isso as Eleições Europeias poderão ser tão importantes e definidoras de um quadro de legitimidades que não permitam a ninguém optar por derrubar o Governo, sem a severa penalização popular ínsita.

Nas últimas Eleições Europeias resultou o seguinte quadro de distribuição dos 21 mandatos em disputa:

Há 10 anos, o MPT chegou a ser a 4.ª força política portuguesa no Parlamento Europeu, mas já quase desapareceu. Existem fenómenos destes na nossa política, de que o PRD com 45 deputados à Assembleia da República em 1985, terá sido o mais expressivo.

Agora, com o crescimento do CHEGA – que é já 3.ª força política – caso essa tendência se verifique igualmente nas Europeias, vão registar-se mudanças de cadeiras. Trata-se, contudo, como referimos de eleições diferentes, normalmente com mais expressiva abstenção. São eleições com menor participação dos eleitores (a título de exemplo, o PS em 2019, ganhou estas eleições com menos votos do que os obtidos pelo Chega nas Legislativas de 10 de março findo). São eleições diferentes, mas a proximidade entre ambos os atos eleitorais pode levar a agenda nacional a sufrágio e, por essa via, aumentar a participação dos eleitores e as legitimidades subsequentes.