Autocarros fretados para levar militantes e simpatizantes comunistas à Festa do Avante virão de todo o país e potencialmente poderão dar boleia à Covid-19 no regresso à proveniência.

Se o país tem que normalizar um quotidiano em contexto de pandemia, justificando-se por isso o retomar da atividade em diversos setores, gradualmente e acompanhado das adequadas medidas de prevenção, a verdade é que desde março passado a vida dos portugueses ficou em suspenso mesmo nos mais privados, íntimos e relevantes acontecimentos na vida das pessoas e das famílias que não puderam, nem podem, normalizar velórios e funerais, casamentos e batizados entre muitos outros momentos da vida das famílias.

O país cancela festivais de Verão, adia ou cancela grande parte dos espectáculos e concertos, assiste a jogos de futebol e de muitas outras modalidades desportivas sem público, mas tem outra medida para a Festa do Avante…. uma festa na qual participam mais de 16.563 pessoas, e repito, virão de todo o país em autocarros com bilhete de regresso e espaço para a Covid-19.

Como compreender o incompreensível? Às portas de um pré-anunciado eventual novo estado de contingência, o PCP não prescinde de realizar a sua festa anual como se se tratasse de uma atividade essencial para a sobrevivência do país, das famílias ou de setores da economia.

Será que é inadiável na luta pela sobrevivência do partido? E das finanças do partido? Porque é que o PCP, com um eleitorado que integra segmentos de risco que após a Festa em parte substancial regressa a regiões do país precariamente providas de serviços médicos, não protege os seus e não protege o país assumindo a responsabilidade de prevenir adiando a Festa do Avante e por esta forma demonstrando solidariedade para com todos todo o país?

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O PCP terá as suas razões. Mais incompreensível e surpreendente é a posição de todos os que nos diversos setores políticos apoiam a teimosia do PCP e aplaudem a realização do evento — num período em que simultaneamente pedem aos portugueses que sejam disciplinados, responsáveis e resilientes. Não é dar um sinal errado, contraditório e desmobilizador? Por um lado, vem aí o papão: sacrifiquem-se, a tarefa é nacional é de todos: sejam responsáveis! Por outro lado, realizar a Festa do Avante… está-se bem! Como dizem os nossos hermanos do lado no pasa nada!

O PSD cancelou a Universidade de Verão, um evento que conta apenas com cerca de 100 pessoas. Se o PSD tivesse insistido na sua realização, provavelmente muitos seriam os que lhe apontariam o dedo em tom de reprovação. É o país de dois pesos e de duas medidas.

Espero que a Festa do Avante não venha a trazer consequências em matéria de pandemia, mas, ainda que assim seja, o PCP e quem “acha bem” que o PCP teime na sua realização manifesta uma posição incongruente, irresponsável e arbitrária!