O movimento sufragista remonta ao final do século XIX. Ocorreu em vários países do mundo para organizar a luta das mulheres pelo sufrágio ativo. O sufrágio feminino foi negado no início da era das democracias em razão de uma organização sexista da sociedade e da política que mantinha o domínio no “talento” dos homens e excluía as mulheres com fundamento no conveniente preconceito de que as mulheres eram incapazes de atuar no meio político. “As mulheres não devem exercer julgamentos em assuntos políticos.”  “Se as deixarmos votar será uma perda na estrutura social.”

No início da terceira década do século XXI o juízo acima referenciado aplica-se na nossa sociedade. Já não para o sufrágio ativo (votar), mas permanece para o sufrágio passivo (ser eleito). A condescendência e o paternalismo são timbre no discurso de alguns e têm como resposta o silêncio de muitos. Porque são ações, mas também as palavras, que nos levam ao destino que vamos construindo, temos que reagir perante qualquer estereótipo irracional “normalizado” na sociedade. Por vezes o problema está nos detalhes que provocam reações subliminares e fazem permanecer a crença.

Por isto não posso deixar de repudiar expressões usadas pelo Presidente do meu partido no encerramento da 5ª Academia de Formação para Mulheres Sociais Democratas ao afirmar: “Nós queremos mulheres nas listas, nós queremos dar destaque às mulheres, no entanto batemos de frente com a realidade e há poucas mulheres disponíveis”. Admitiu seguidamente: “Se as mulheres vierem por esta via (da formação) para a política, mais depressa passam os homens…”. Duas perguntas simplesmente: “…nós queremos dar destaque às mulheres…”. Nós quem? “…mais depressa passam os homens…”. Passam os homens para quê?

Senhor Presidente, olhe à sua volta e veja como as mulheres sociais democratas exercem profissões por mérito próprio. Veja o imenso potencial das mulheres em Portugal. E, ainda que porventura não as consiga cativar, ou que não as conheça, sugiro que não considere (ou que não afirme) que “Nós queremos dar destaque às mulheres…”. As mulheres há muito que traçam o seu caminho, mesmo perante os obstáculos. Senhor Presidente, não se pode apertar as mãos com o punho fechado.

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