Num momento em que o mundo aguarda com grande expectativa o resultado da Conferência do Clima a decorrer em Glasgow, a COP26, são vários os pontos ali em discussão para encontrar um caminho que ofereça confiança e segurança de que conseguiremos cumprir o objetivo de emissões líquidas zero até 2050.

Um dos pontos em cima da mesa está, obviamente, ligado à capacidade de financiar as medidas que contribuem para alcançar esse objetivo, sendo que para tal as instituições financeiras internacionais são convocadas para desempenhar o seu papel e trabalhar no sentido de libertar os triliões de financiamento do setor público e privado necessários para assegurar o zero líquido global.

Sendo certo que, como o nome indica, a conferência é dedicada ao clima, não podemos dissociar do clima um outro pilar do desenvolvimento sustentável, o social. Sem sustentabilidade social não há sustentabilidade ambiental, e vice-versa. E, nesse capítulo, enquanto esperamos pelos resultados reais futuros das medidas que vierem a ser acordadas a nível global, há no nosso país um enorme espaço de contributo que devemos agarrar já e que toca os dois pilares onde o papel das instituições financeiras públicas e privadas é decisivo: o da habitação.

O problema da habitação em Portugal tem sido amplamente discutido, normalmente pela falta de oferta nova a preços comportáveis para a generalidade das pessoas, havendo, contudo, um aspeto que fica recorrentemente em segundo plano, relacionado com o parque habitacional já instalado.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Os edifícios são responsáveis por cerca de 40% do consumo total de energia da UE e por 36% das emissões de gases com efeito de estufa, aos quais temos de acrescentar a pobreza energética do parque imobiliário, sendo que esta continua a ser uma dura realidade para milhões de europeus, especialmente para os portugueses.

Em Portugal os desperdícios energéticos ocorrem num parque habitacional envelhecido, com mau isolamento térmico das paredes, caixilharias sem corte térmico e vidros com elevados coeficientes de transmissão térmica, provocando um consumo excessivo de energia para aquecer as casas e reduzir o desconforto térmico. A grande maioria do parque habitacional edificado no nosso país foi construído no período pós anos 40 e principalmente pós anos 70, caracterizados pela construção menos regrada, que fez com que hoje tenhamos imóveis com más condições de temperatura e de salubridade, agravado pela falta de meios da população. É importante termos em mente que, segundo dados da Eurostat, 18,9% dos portugueses diziam não ter capacidade financeira suficiente para aquecer o seu lar devidamente.

Então como combater este duplo problema: a falta de oferta de imóveis com bons níveis de eficiência energética e o impacto negativo para o ambiente do parque instalado? Parte da resposta reside na indústria financeira, tal como é observado pela ONU.

A indústria financeira em Portugal deve, através dos seus produtos e serviços, incentivar a compra de casas com elevada classificação energética, assim como a renovação e remodelação do parque existente com um perfil energético menos eficiente, criando estímulos que promovam intervenções.

Felizmente, o mercado está hoje mais desperto para esta realidade e as gerações mais jovens – que procuram as suas primeiras casas – são mais sensíveis e exigentes para com este nível de comprometimento com os princípios da sustentabilidade. Até porque as vantagens vão muito além do efeito social e ambiental. Além de melhorarem o conforto e reduzirem os custos com a energia do imóvel, a implementação das medidas de melhoria possibilitam a valorização do imóvel reabilitado, pois uma classe energética mais elevada permite obter vantagem competitiva no mercado imobiliário. Dados da Confidencial Imobiliário mostram que casas com classificação A ou A+ são transacionadas com um premium que pode ir até 6% do valor do imóvel.

São múltiplas as formas de financiar o esforço necessário para salvar o planeta a prazo, contribuindo para o bem-estar e satisfazendo as necessidades essenciais das pessoas no presente. Assim também o queiram fazer os líderes dos 197 países presentes na COP26.