Recentemente, vi o vídeo da primeira mulher a correr a Maratona de Boston. Kathrine Switzer, sabendo que a corrida estava vedada a mulheres, inscreveu-se usando apenas as suas iniciais e na companhia do seu treinador e do namorado participou na competição. Tudo corria bem, até que o diretor da Maratona de Boston apercebeu-se da situação e tentou de forma furiosa e a todo o custo expulsá-la da corrida. Kathrine Switzer terminou a corrida em 4h20. O ano era 1967 e só 5 anos depois a Maratona de Boston permitiu que mulheres participassem oficialmente na mesma.

A luta pela igualdade de género, começou há centenas de anos. Desde então, mulheres lideram países, empresas e exércitos, estão na fronteira da exploração espacial e 126 anos depois da Nova Zelândia ter sido o primeiro país a legalizar o voto das mulheres, hoje votamos no mundo inteiro (o último país a permitir foi a Arábia Saudita, em 2015). No entanto, atualmente a média da OCDE para a diferença salarial entre homens e mulheres é ainda de 14% (em Portugal é de 18,3%), até Março de 2019, em Portugal já tinham morrido 12 mulheres vítimas de violência doméstica e quando olhamos para os CEO’s das empresas do PSI-20, índice que agrega as 20 maiores empresas cotadas na Euronext Lisboa, vemos apenas uma mulher.

Quando escrevi o meu último artigo sobre mulheres e liderança, recebi vários comentários de homens a dizer que não percebiam porque é que a igualdade de género ainda era assunto, que com o tempo a situação iria resolver-se. No entanto, segundo o projeto “Closing the Gender Gap“ do Fórum Económico Mundial, demoraremos 202 anos até conseguirmos eliminar a desigualdade de género globalmente e uma coisa é certa, não vamos conseguir fazê-lo sozinhas.

O interessante do episódio da Maratona de Boston, não é apenas que Kathrine Switzer mostrou que uma mulher conseguia terminar uma das maratonas mais famosas do mundo, mas quando vemos o vídeo percebemos que ela só conseguiu ser bem sucedida porque o namorado, Tom Miller, empurrou o diretor da corrida, deixando o caminho livre para Kathrine. Tom Miller percebeu que na Maratona de Boston havia espaço para todos e que a sua participação em nada ficava diminuída, por partilhar a corrida com mulheres. Ele mostra-nos que contrariamente ao que nos fazem muitas vezes acreditar, para haver igualdade de género não é preciso haver vencedores e vencidos. E é isso mesmo que defende o feminismo, um movimento político, filosófico e social que defende a igualdade de direitos entre todos, independentemente do género. O desconhecimento sobre o que realmente é o movimento feminista e o que quer alcançar, faz com que homens e mulheres continuamente se assumam não feministas e se excluam desta luta. No entanto, homens como o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, os atores Will Smith, Antonio Banderas e Daniel Craig e o músico Bono, assumem-se publicamente como feministas, por acreditarem que homens e mulheres devem ter os mesmo direitos e acesso às mesmas oportunidades.

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Eu gostava que efectivamente o tema da igualdade de género deixasse de ser assunto. Até esse dia chegar, nós feministas, temos que continuar a chamar a atenção para a questão e a garantir que em casa, no trabalho e na escola estamos todos atentos aos comportamentos discriminatórios que abundam nas nossas interações sociais.

Termino, assim com um apelo. A igualdade de género só será uma realidade com o apoio de muitos Tom Millers, homens que percebem que os direitos das mulheres são direitos humanos e estão dispostos a lutarem por eles. Junte-se a nós!

Inês Santos Silva tem 29 anos é Diretora Executiva da Aliados – The Challenges Consulting e fundadora da comunidade Portuguese Women in Tech.