25 anos depois da IV Conferência Mundial sobre a Mulher: Igualdade, Desenvolvimento e Paz organizada pelas Nações Unidas, em Pequim em que Hillary Clinton, na altura Primeira-Dama dos Estados Unidos da América disse “Os direitos das mulheres são direitos humanos” ainda estamos muito longe de atingir a promessa da igualdade, quer a nível social, quer a nível económico e político.

Mas é importante salientar, que nos últimos 10 anos, começou a crescer uma abordagem feminista à política externa. Quando Hillary Clinton se tornou Secretária de Estado do Governo de Barack Obama, afirmou que os direitos das mulheres são um dos pilares mais importantes da política externa Americana e para reforçar essa posição, criou a posição de Embaixador(a) Global para os direitos das mulheres. Mas é em 2014, com Margot Wallström como ministra dos negócios estrangeiros da Suécia que se populariza a abordagem feminista à política externa, alicerçada em 3 pilares: direitos das mulheres, representação das mulheres na tomada de decisão e alocação justa de recursos.

Enquanto ministra, Margot Wallström exerceu aquilo que o cientista político americano Joseph Nye chama de “smart power” (poder inteligente), ou seja, quando um país investe na solução de problemas de escala global, como os direitos das mulheres, os cuidados de saúde e o desenvolvimento económico, esta abordagem acabará por beneficiar esse país. Ao longo do seu mandato Margot Wallström tomou algumas decisões consideradas polémicas. Chamou a atenção, publicamente, para a violação dos direitos das mulheres, na Arábia Saudita o que levou ao corte temporário das relações diplomáticas entre os dois países e ao cancelamento da parceria comercial entre a Suécia e este país, para a venda de armas. Apoiou um tratado das Nações Unidas que proibia armas nucleares, o que restringiria a cooperação futura com potências nucleares. Mas também, por meio desta nova política, ajudou mais de 20 países a elaborar leis e propostas para fortalecer a igualdade de género e ajudou mais de 90 comunidades a abandonar a mutilação genital feminina. Não esquecendo também, que a Suécia é um dos países Europeus que mais refugiados recebeu.

Também o Canadá anunciou, aquilo a que chamou da “primeira política feminista de assistência internacional” do país, com planos de gastar pelo menos 95% da sua ajuda externa em melhorar a vida de mulheres e meninas.

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Já em 2020, o México torna-se o primeiro país da América Latina a adotar uma abordagem feminista na política externa, com um foco nos direitos humanos.

O avanço da igualdade de direitos é um imperativo moral, mas também é um imperativo estratégico. Abunda a investigação que mostra que o investimento em mulheres é fundamental para o progresso económico, social e político. Segundo Valerie Hudson, professora americana de ciência política, “De fato, o melhor indicador da paz de um estado não é o seu nível de riqueza, o seu nível de democracia ou a sua identidade étnico-religiosa; o melhor indicador é o quão bem as mulheres são tratadas”.

Será que outros países irão adotar esta abordagem? Apesar dos sinais positivos, a resposta ainda é incerta, mas Portugal, devido à sua dimensão, ao seu histórico diplomático e por ser o 3º país mais pacífico do mundo (mas com uma taxa de violência doméstica sobre as mulheres altíssima), tem todas as condições para se juntar ao pelotão da frente, desta nova abordagem. Como disse Einstein, não podemos resolver os problemas da mesma forma como os criamos e, em 2020, os velhos modelos de diplomacia estão esgotados, pelo que é essencial implementar novos, que impeçam a proliferação do conflito e coloquem a segurança das pessoas no centro da diplomacia.

Inês Santos Silva tem 30 anos é Diretora Executiva da Aliados Consulting, cofundadora da comunidade Portuguese Women in Tech e membro do Global Diplomacy Lab, uma plataforma que explora uma diplomacia mais inclusiva que vá além da política tradicional.

O Observador associa-se à comunidade Portuguese Women in Tech para dar voz às mulheres que compõe o ecossistema tecnológico português. O artigo representa a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da comunidade.