Ei-lo! Ei-lo de novo! É por estes dias que se festeja, ali à beira-mar, São Gonçalinho, um santo de uma estirpe bem rapioqueira, mas ao mesmo tempo muito prestável. Dizem ser a primeira grande romaria do ano, dedicada a um garotão que terá passado por Aveiro durante o século XIII e arremessado pão aos leprosos, sem se aproximar muito dos mesmos, por causa daquilo do contágio. Parece que era uma joia de pessoa e até resolvia atritos em casais desavindos, virtude que tanta falta faz nos tempos que correm, diga-se em nota de rodapé.
Aveiro engalana-se de pompa, circunstância e tudo o resto por estes dias. É um prolongar evidente das festividades natalícias e de ano novo. Parece que se fica hipnotizado com tamanhas estravagâncias bem ao jeito medieval. É uma coisa diferente, bem pitoresca, e a malta que visita a cidade por estes dias rejubila boquiaberta, desfrutando do espectáculo em si e de tudo o que o envolve. Cavacas são atiradas do cume da capela e promessas são cumpridas. O povo nativo chama-lhe de forma fofa “o nosso menino”, e São Gonçalinho, nascido há mais de 800 anos para os lados de Vizela, agradece (a confirmar). Andou durante anos e anos a viajar. Foi até Roma e até à Palestina, visitar os lugares santos e assim, aproveitando, à boa maneira portuguesa, o dia aberto dos museus. Numa dessas muitas viagens, terá atracado uns tempos em Aveiro. O pessoal gostou dele e, séculos mais tarde, ergueu-lhe uma pequena capela a transbordar de magia e simbolismo. Ao redor da mesma, a festa e tradições têm lugar dia e noite adentro. Dorme-se pouco, muito pouco. Os mordomos, a determinada altura, apenas existem e vivem em “piloto automático”. Se assim não fosse, talvez não tivesse piada. As cavacas voam lá de cima. São duras e provocam mazelas aqui e acolá. Não é grave. A festa continua e só termina segunda-feira. As horas de sono são repostas mais tarde, assim que tudo acabar com a sensação de dever cumprido e de que tudo valeu a pena.
Apareçam. Vai ser giro, vai.